A matemática é fascinante. Exata, pero nem tanto. Se você se aprofunda no universo da matemática, vai ver que ela tem um pé na filosofia. Até os números são relativos. E, no rigor, vai se dar conta de que eles até nem existem. É o que nos ensina a Teoria dos Limites, um capítulo surpreendente da matemática. Ao mesmo tempo, a matemática é exata e vertiginosa, e chega-se até os números por caminhos intrincados e pedregosos. Um verdadeiro labirinto, em que é fascinante encontrar a saída.
A matemática é também reveladora. Tem, portanto, seu caráter subversivo – daqui a pouco, no rumo que vai, essa palavra estará circulando desembaraçada de volta por aí, já se fala até em Lei de Segurança Nacional. Pois essa matemática, como boa subversiva, tem o poder de traduzir a realidade. Semana passada, por exemplo: extrema pobreza sobe e Brasil já soma 13,5 milhões de miseráveis. É um número, e é muita gente. Pessoas, de carne e osso. Na definição, miseráveis são aquelas pessoas que sobrevivem com R$ 145 por mês, ou menos de cinco reais por dia. De 2014 para cá, 4,5 milhões de brasileiros entraram na condição de extrema pobreza.
Há certas questões na vida que estão incluídas na categoria daqueles assuntos que verdadeiramente importam, ou que deveriam nos importar. Esta é uma delas: a existência dos miseráveis. A partir daí, a matemática começa a ceder espaço, ou deve entrar junto com as humanidades para buscar soluções que, na prática, significa recuperar dignidade a pessoas reais. Porque a matemática seguirá presente na hora da destinação de recursos e de confirmação de prioridades das gestões públicas, dos governos. Pelo visto, distribuição de renda não tem sido prioridade, nos revela a matemática.
Há outras questões incluídas na categoria das que realmente importam. O racismo, por exemplo. A toda hora, como neste fim de semana no futebol, os exemplos são um soco no estômago. Importa o combate ao racismo, à segregação, ao preconceito, importa o estímulo à diversidade, fazer parada livre na praça. Deve estar prioritariamente em nossa agenda. O meio ambiente, mais um exemplo. Verdadeiramente importa o que estamos fazendo com o meio ambiente. Neste particular, segue sendo importante saudar a sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que foi à ONU para clamar sobre o que temos feito com o meio ambiente. Greta deveria ser tema de aula em nossas escolas, porque vai além da constatação. Constatar é o começo. Greta coloca a questão da postura, de o que fazer.
Há coisa que realmente importam. Nos revelam a matemática, a filosofia, que nos ajuda a pensar, e um bom senso de humanidade.