A vertigem dos dias só faz crescer. Tudo é cada vez mais rápido, a exigência é essa, como se nosso percurso cotidiano se desenvolvesse dentro de um daqueles equipamentos de parques de diversões, cheio de luzes, sonoridades e giros mirabolantes. Há fatores bem evidentes para termos chegado onde chegamos, e provavelmente o principal deles é a parafernália mobile, celulares, smartphones e similares. Se deixarmos – e esse detalhe é importante, se deixarmos –, eles nos alcançam e vão nos buscar onde estivermos, e nos sugam. Em muitos casos, o uso da tecnologia mobile é trabalho, e não há o que fazer, mas pode merecer uma boa administração, em equilíbrio básico com as demais demandas da existência, compatível com a civilidade e a qualidade de vida. O fato é que muitos se deixam levar na onda, e aí não tem jeito: é vertigem o tempo inteiro.
Não é só o universo mobile. A produção de fatos, notícias e barbaridades aumentou, decorrência da multiplicação de canais e plataformas, mas também pelas artes e habilidades dos protagonistas, como se vê na vocação ensandecida do governo federal para causar perplexidades. E nossa atenção é seduzida a todo momento por grande parte das informações que jorram em avalanche, e uma vai substituindo a anterior, em ciclo perpétuo. É outra onda da vertigem atual. A multiplicidade de fontes e canais é a ferramenta material para tal cenário, a nos perseguir, alcançar e seduzir até captar nossa atenção.
Ainda tem as redes sociais, que se diversificam, pois seria preciso compartilhar tudo, curtir, responder mensagens. É uma terceira onda da vertigem, que exige de muitos, por exemplo, digitar no smartphone enquanto se está na direção. Não é um transe? Pois bem, há outros mecanismos: a cultura do resultado, que exige entrega, cumprimento de metas e de prazos. Eis nossa vertigem! E vai piorar.
Desse jeito, temos menos tempo para a vida real, e refletir sobre ela. Velocidade e reflexão não se combinam facilmente. Tempos atrás, vidas perdidas no trânsito comoviam mais, tínhamos mais capacidade de mensurar seus efeitos e suas dores. Por estes dias, nessa vertiginosa Caxias, perderam a vida nas ruas da cidade e em uma estrada municipal uma jovem de 18 anos, atropelada, uma adolescente de 12 anos, também atropelada, uma jovem de 22 anos em uma colisão de moto e um coletor da Codeca e tatuador de 32 anos em outro acidente de moto. Sabe lá o que é isso? É, está acontecendo em Caxias, em meio à vertigem nossa de cada dia. Algo tem de ser feito.
Menos vertigem urbana e tecnológica, mais atenção à vida real.