Com as chuvas torrenciais na região Sudeste, a Defesa Civil alertava, desde o final de dezembro, sobre os sérios riscos de subir encostas de montanhas, frequentar rios e cachoeiras, fazer trilhas e rapel, enfim, o pacote todo do turismo de aventura, que às vezes envolve mais uma “egotrip” do que “ecotrip” (mais isso será assunto de outra coluna). No começo de janeiro, o bombeiro Pedro Aihara – que ficou conhecido na época do rompimento da barragem em Brumadinho – postou um vídeo no Instagram denunciando um coach chamado Pablo Marçal, que colocou em risco seus clientes ao levá-los até o topo do Pico do Marins, interior de São Paulo, mesmo sob condições climáticas extremamente perigosas.
Resultado: enquanto nas redes sociais o tal coach postava vídeos falando em desafio, superação e mostrando o grupo enfrentando a inclemência do tempo, convenientemente escondia o fato de que membros desse mesmo grupo foram resgatados da montanha no meio da madrugada pelo Corpo de Bombeiros, alguns com princípio de hipotermia. Só mais uma demonstração de que vale mais a ilusão das redes sociais do que a verdade dos fatos. Contudo, a realidade até pode ficar escondida ou maquiada por um tempo, mas não para sempre.
Com a exposição da imprudência do coach Pablo Marçal pelo bombeiro Pedro Aihara, logo os podres vieram à tona na imprensa: ligado a uma controversa igreja evangélica que arrecada milhões de seus fiéis com falsas promessas de redenção, em 2010 Marçal fez parte de uma quadrilha que desviava dinheiro de bancos. Resumindo, o tal coach messiânico não passa do típico malando sem-vergonha que encontramos aos montes neste país sempre à caça de gente facilmente influenciável.
O que me intriga é como pode alguém pagar para ser orientado e conduzido por um ser execrável como este. Como podem tantas pessoas – incluindo empresários e profissionais qualificados – se tornarem presas tão fáceis para charlatões de todos os tipos chegando ao ponto de literalmente se perder pelo caminho? Tenho lá minhas teorias, que na verdade são um resumo simplificado de vários estudos sobre a sociedade contemporânea: numa sociedade com excesso de informações, as pessoas estão desnorteadas. Buscar um rumo, seja onde for, se tornou essencial para combater a ansiedade, o estresse e a depressão.
O problema é que encontrar uma direção na vida não é nada fácil. O que esses charlatões sob a denominação deturpada de “coach” fazem é justamente oferecer às pessoas uma solução fácil e imediata para quem busca um norte. E uma geração que se acostumou ao imediatismo e que se contenta com prazeres superficiais, com relações superficiais e com uma vida de aparências cai fácil na armadilha preparada maquiavelicamente por gurus grotescos como esse tal Pablo Marçal.