O berço da cultura do vinho no país é também o principal polo de formação profissional. A primeira escola de viticultura e enologia começou a funcionar em 27 de março de 1960 em Bento Gonçalves. Mais de seis décadas depois, a Serra é pioneira novamente. Desta vez, com a criação do primeiro curso nesta área oferecido por uma instituição privada no Brasil. As aulas do curso superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) vão começar em agosto, em Flores da Cunha.
A duração do curso da UCS é o que mais chama a atenção. A formatação de cerca de 2,5 mil horas em três semestres. Para se ter uma ideia, a formação do IFRS, em Bento, tem 2.819 horas e duração de sete semestres. Outra novidade do curso é que ele aproveita a estrutura de toda a universidade e terá parcerias com instituições públicas. Embora a maior parte das aulas ocorra em Flores da Cunha, onde está instalada também a Escola de Gastronomia da UCS e que conta com uma enoteca, serão realizadas aulas em laboratórios da UCS no campus-sede. As microvinificações serão feitas em Fazenda Souza por meio de parceria da UCS com o Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Vitivinicultura. Atividades também serão desenvolvidas na Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves.
A possibilidade de fazer uma segunda safra em um mesmo ano e conhecer de perto a região italiana que mais produz espumantes também chama a atenção para este novo curso da UCS. O coordenador de enologia e diretor da Escola de Gastronomia da UCS, Mauro Cingolani, adianta que já há uma parceria com a Universidade de Padova, no Norte da Itália, que tem uma unidade na cidade de Conegliano, considerada o coração da produção do prosecco. Este tipo de espumante é o que mais ganha volume de produção no mundo atualmente.
— Estamos agora ajustando os detalhes de como será feito esse intercâmbio que deve ser oferecido até o final do curso — antecipa Cingolani.
O quadro de profissionais que vai ministrar as aulas tem, nas disciplinas de vinificações, enólogos conhecidos da região, como Edegar Scortegagna, André Gasperin, Juliano Perin e Bruna Dachery. Na parte de viticultura, além de professores de agronomia, como o próprio coordenador do curso Gabriel Pauletti, vai contar com nomes que ainda não atuavam na UCS, como Eduardo Giovannini.
Como a UCS já oferece há anos o curso de Sommelier Internacional, que neste ano passou a ter a chancela internacional da Organizzazione Nazionale Assaggiatori di Vino (Onav) da Itália, a nova formação em enologia também contará com aulas do sommelier italiano Luigi Terzago. O próprio coordenador do curso, o chef italiano Mauro Cingolani, será professor, pois o currículo inclui aulas de enoturismo e enogastronomia.
Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), destaca a importância da Serra ter mais um curso na área com uma formação tão abrangente:
— Muitas vezes, as pessoas criam uma imagem de que a profissão do enólogo é somente o glamour de estar degustando e avaliando um vinho, porém o profissional está envolvido em muitas outras etapas, desde os vinhedos, passando pela elaboração e por fim em áreas como marketing e enoturismo. Hoje temos enólogos atuando e se destacando em diferentes frentes da cadeia vitivinícola e, quanto mais profissionais preparados tivermos, melhor para fortalecer a qualidade e a imagem do vinho brasileiro — aponta o presidente da entidade.
Para a primeira turma do novo curso da UCS serão oferecidas 30 vagas, e os interessados devem participar de processo seletivo.