Tem um lugar no interior de Caxias do Sul onde o sincretismo não está nas manifestações religiosas. Embora este local esteja ao lado da Igreja de Conceição da Linha Feijó e a mitologia grega esteja estampada por toda a parte, a fusão de diferentes estilos ocorre dentro da taça. É a diversidade que marca a vinícola comandada pelo enólogo Ivan Tisatto. Se não bastassem os mais de 15 rótulos de vinhos finos tranquilos e os seis de espumantes, ali também são elaboradas cervejas.
Mas não são apenas pelos produtos que a Dom Dionysius é sinônimo de pluralidade. O perfil de público consumidor faz com que a vinícola tenha participado da Feira do Vinho de Caxias, onde os compradores buscam volume e preço baixo para abastecer os estoques de inverno, aos rótulos de renomadas cartas de restaurantes, como o D.O.M de Alex Atala, ou mesmo prestes a ser o responsável por elaborar o vinho da casa do Camélia Òdòdó, de Bela Gil.
Hoje, um dos principais investimentos do negócio familiar tem sido nos vinhos naturais. Esta linha é batizada com rótulos que estampam animais brasileiros em extinção. Inclusive, nesta semana, dois vinhos serão apresentados na Feira Naturebas, que ocorre em São Paulo e é especializada em vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos. Os lançamentos são um pinot noir e um touriga nacional.
Mesmo os outros vinhos que não são da linha natural também já estão sendo vinificados sem uso de leveduras selecionadas, ou seja, fermentam pelo processo em contato com a casca das próprias uvas. Para se ter uma ideia do reposicionamento da pequena vinícola nos últimos anos, ela chegava a elaborar 1,2 milhão de litros de vinho por ano e agora está em 200 mil. A opção de diminuir foi por agregar valor aos produtos, expandir a produção dos vinhos finos e também se voltar para o turismo. O próprio receptivo turístico inclui varejo e um wine bier garden. Com esses movimentos, hoje o faturamento quase se iguala, mesmo com redução de 82% do volume processado.
Se perdeu em quantidade de litros elaborados, a Dom Dionysius ganhou em complexidade de sabores e de novas experiências. Como a empresa também vinifica para outros projetos, isso permite algumas experiências curiosas, como um pét-nat da uva Isabel. Com a marca Cosabella, o produto é uma parceria da vinícola caxiense com uma cervejaria de Florianópolis. A variedade de uva de mesa é a mais plantada hoje nos vinhedos da Dom Dionysius em Conceição da Linha Feijó, mas o espumante rosé natural produzido com ela ganha outro status, inclusive em valor de comercialização, custando R$ 120 no varejo da vinícola. Este é só um dos exemplos da ampla prateleira de inovações desta empresa caxiense que, assim como outras da cidade, têm no DNA a vocação de inovar. Deus Dionísio não é apenas conhecido por ser o deus do vinho, mas por influenciar diretamente na fertilidade. No caso desta vinícola, inspira a multiplicidade de ideias.