
O Grupo Uniftec completa 30 anos em 2021. A trajetória da instituição de ensino caxiense, que ao longo de sua história já formou mais de 120 mil pessoas, da qualificação ao superior, se confunde com a do reitor e seu fundador, Claudio Meneguzzi Jr. Engenheiro de formação e empreendedor de vocação, ele mostra como deixou uma carreira em uma das maiores fabricantes mundiais de avião para apostar em uma franquia educacional que foi o embrião para ele participar da criações de duas faculdades e vários negócios educacionais.
Assim como seu idealizador, a holding educacional passa por reformulações, que vão do novo nome Grupo Uniftec/Ecoinove (Ecossistema de Inovação Educacional) à expansão para além de ensino técnico e superior. A seguir, Meneguzzi explica como pretende transformar a instituição de ensino em um ecossistema que começa na Educação Infantil, passa pelo Ensino Médio e vai além de um diploma.
Como você resumiria os primeiros momentos de uma trajetória profissional de mais de 30 anos?
Eu sou natural de Caxias, sexto filho, o mais jovem da família. E o meu foco sempre foi investir em educação até para desenvolvimento pessoal. Meu ensino básico foi todo na escola púbica. Com 18 anos, fui buscar o Instituto de Tecnologia de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP). Por ser pública, é uma faculdade que continua muito exigente e disputada. Como comecei a trabalhar muito cedo, estudava à noite, e eu tive que me dedicar muito para passar no ITA. Depois trabalhei quase cinco anos na Embraer. Entrei como estagiário e depois fui trainee e engenheiro. Passei por muitas áreas, inclusive administrativas. O ITA tem uma formação técnica muito densa, mas gestão de empresas eu fui aprender na Embraer, e na experiência prévia em pequenas empresas na adolescência. Meu pai era mestre de obras. Ia com ele ajudar nos apontamentos. As primeiras lições de liderança que tive foi com ele nas obras.
E como foi o teu retorno para empreender em Caxias do Sul?
Fiquei até o início da década de 1990 na Embraer. À época, ela estava no processo de privatização, passava por dificuldades no portfólio de produtos. Mesmo assim, ela sempre foi uma empresa muito interessante tecnologicamente e em termos de capital humano. Mas comecei a buscar outros empregos lá em São Paulo mesmo. Foi quando, com 27 anos, encontrei um amigo que tinha feito ITA e estava criando uma rede de franchising de informática. E pretendia expandir para o RS. Foi aí que voltei e trouxe a franquia. Comecei a pensar ela em 1990 e abri no final de 1991. Foi um trabalho árduo fazê-la "decolar". A sustentabilidade dela levou dois anos. Mas depois deslanchou e abri uma outra unidade em Porto Alegre. Percebi que a franquia limitava o crescimento e resolvi criar a Data Brasil, para ensino na área de tecnologia e que entrasse também na informática educativa. Criamos o sistema de ensino, franchising, e a empresa funcionou de 1995 até o início dos anos 2000. Foram quase 20 escolas, entre as nossas e franqueadas. Mas eu sempre tenho aquela percepção da necessidade de evoluir. A necessidade do mercado permanecia, o que mudava é a forma de atender. Se no início um curso de informática era suficiente, passamos a entender que era preciso olhar além, para o ensino técnico e superior. Foi o que fizemos. Em 1998, abrimos nossa primeira escola técnica aqui em Caxias.
Como esse movimento tecnológico se transformou no embrião de um centro universitário?
Em 1998, abrimos a escola técnica. Depois a levamos para Bento Gonçalves e outros lugares. A escola técnica foi o embrião para uma faculdade, porque a estrutura do ensino técnico é muito parecida com a do superior. Como um negócio paralelo, por esta época, eu me associei com outro grupo educacional e abrimos a faculdade FSG, que depois foi vendida. E aí em 2002 abri a faculdade de tecnologia FTEC. Quando abrimos a escola técnica, fomos pioneiros em aproveitar a legislação que permitiu este tipo de ensino técnico sem o ensino médio agregado. E também, na abertura da Faculdade de Tecnologia FTEC, para formar tecnólogos, pois havia uma necessidade de faculdades mais voltadas para o mercado de trabalho. Depois levamos a FTEC para a Capital, Bento, Novo Hamburgo. Nos credenciados para a Educação a Distância (EaD) em 2012. Mesmo na educação presencial, sempre trabalhamos com mediação de tecnologia, o que tornou o EaD um processo muito natural. Nesse contexto, de sempre estar olhando à frente, tem que se estruturar, desenvolver competência organizacional para manter o negócio saudável. Em 2014, abrimos o Ilab (laboratório de inovação) e promovemos o primeiro Startup Weekend de Caxias. Em 2016, o UniFtec foi credenciado pelo MEC como Centro Universitario, o primeiro da região. Foi esse caminho que busquei desde o início. Aprimorar nossa curva de aprendizado empresarial, que vivo nestes 30 anos.
E como você vê o futuro da educação?
Aqui no Brasil, o ensino e o setor produtivo sempre andaram em paralelos, nunca convergiram. A pessoa faz faculdade, ganha a credencial para buscar um emprego, entra na empresa e aprende o que é relevante para a carreira. Depois volta para a instituição de ensino fazer pós-graduação, mas as coisas não caminham juntas. São mundos diferentes. Vejo um futuro de empreendedorismo que não só vai exigir capital, mas vai exigir mais conhecimento. Antes, para empreender, você precisava ter muito dinheiro, plantas industriais, máquinas e gente. O novo empreendedorismo é diferente, o grande insumo é o conhecimento. A estrutura necessária está na nuvem, tu podes usar. Nesse sentido, o fundamental é desenvolver capital humano. E por isso, no mundo desenvolvido, muitas empresas relevantes estão nascendo no ambiente universitário. Pega essas big techs (grandes empresas de tecnologia) que valem trilhões. Muitas nasceram de projetos acadêmicos, dentro e incubadoras e aceleradoras universitárias. Temos que criar um ecossistema educacional e empreendedor, que traz o setor produtivo aqui para dentro, com formação de capital humano que não pode se restringir só ao nível superior. Temos que começar isso olhando as crianças. Se não desenvolvê-las desde o início, com línguas, tecnologias, habilidades comportamentais, trabalho colaborativo, além de uma formação apurada, vai ser mais complicado. Por isso estamos ampliando o nosso leque e olhando educação infantil, fundamental, ensino médio e continuamos firmes com superior, pós, criamos aceleradora, fundo de investimentos, parcerias, com empresa de tecnologia, geramos e operamos empresas universitárias. Temos que criar esse ecossistema da educação básica ao setor produtivo. Queremos nos transformar na universidade das pessoas e das empresas. Vejo que essa é uma nova onda. Para continuarmos no jogo como uma instituição regional forte, porque o setor educacional é um negócio de escala, com o ensino se concentrando em grandes grupos, é preciso se diferenciar, agregar valor, ir muito além de terminar nossa missão com a entrega de um diploma para o aluno. É preciso desenvolver nos alunos esse mindset (forma de pensar) de autonomia e conhecimento para fazer o melhor caminho.
Como você desenvolveu essa habilidade e como enxerga o futuro da nossa região?
Tudo passa pela educação. Gosto muito de ler. Tenho muito forte esse lado da resiliência de empreender em uma realidade hostil. Se não tem empreendedor, não tem futuro. Mas para empreender é preciso ter também o lado administrador, que olha para o passado, e o do técnico que faz acontecer o hoje. É difícil, porque esses papéis, muitas vezes, se contrapõem. Em um pequeno empreendimento, e foi assim quando eu comecei, eu era os três. Me sinto mais à vontade no papel de empreendedor, de olhar lá na frente, mas tu não podes ser só o visionário. Tu tens que que fazer o dia a dia funcionar, por isso empreendedorismo é sempre alto risco. Desta forma, enxergo o futuro da nossa região com otimismo. Só sendo otimista para ser empreendedor. Nossa cultura é empreendedora, e temos várias competências empreendedoras na nossa região. Essa questão da autonomia desenvolvemos pelo nosso contexto histórico, de fazer as coisas acontecerem. Ninguém veio aqui e instalou multinacional, grande empresa pública. Nós que fizemos. Mas acredito hoje em um empreendedorismo muito em cima de talentos, não só visionário, com foco em conhecimento avançado, porque a tecnologia está embarcada em tudo que produzimos atualmente. E vai ser cada vez mais presente. Veículo elétrico/autônomo, por exemplo, é mais um computador sobre rodas do que qualquer outra coisa. Se antes se dizia que, para ter sucesso na vida, precisava dominar a comunicação e entender da realidade por meio de números, eu agregaria hoje a camada do pensamento computacional como outra necessidade para se chegar lá.