Na última semana, ao começar a perceber o tamanho do evento climático que estava se abatendo sobre o RS, poucos meses depois de uma catástrofe já ter sido registrada, confesso que bateu aquela sensação de nem saber o que dizer. Uma mistura de sentimentos de angústia, frustração, tristeza e impotência. De novo aqui? E ainda maior? Por quê?
A passagem dos dias e a dinâmica dos fatos, no entanto, vai se impondo, e o instinto humano de resistência e adaptação sempre acaba prevalecendo. Do espanto se vai à ação e à constatação de que, sim, há muito a ser dito e feito. E bons exemplos, nesse momento, são fundamentais.
Estive nesta terça-feira (07) apresentando o Chamada Geral, pela Gaúcha Serra, direto do Seminário Nossa Senhora Aparecida, cedido para que voluntários comandados pela Fundação Caxias façam o recolhimento das doações feitas pelos caxienses para as vítimas das enchentes. Mesmo já tendo feito variados tipos de cobertura, confesso que o que vi naquele lugar, mesmo que singelo, tocou-me profundamente, e foi uma injeção de esperança em um momento tão sombrio.
Lá estavam centenas de voluntários. Eram professores, servidores públicos, aposentados, empresários, artesãos, comerciantes, profissionais liberais e estudantes, só para citar algumas pessoas com as quais conversei. Todas organizadas e focadas em, do jeito que podem, contribuir de alguma forma para diminuir o sofrimento de quem foi duramente atingido. Não é, por óbvio, uma exceção. Temos visto muita solidariedade e apoio em todo o país, e Caxias é só uma parte dessa engrenagem. Mas estar perto e ouvir essas pequenas grandes histórias é revigorante.
Sim, temos faces ruins da humanidade sendo mostradas nesta crise, e não podemos esquecer disso. Os erros governamentais, especialmente de falta de prevenção a catástrofes e fraca atuação contra as mudanças climáticas (no que parte da sociedade é cúmplice e conivente), cobraram um preço alto, e espero que sirvam para reflexão e mudança de postura. Inclusive, cedo ou tarde as devidas responsabilidades deveriam ser cobradas.
E também se fizeram presentes saqueadores, golpistas, espalhadores de notícias falsas (inclusive políticos) e oportunistas de todos os tipos. Esses comportamentos estão aí para nos deixar em alerta, e mostrar que alguns seres humanos também podem fazer muito mal, mesmo que sejam uma minoria. E por isso é necessário enaltecer o outro lado.
Prefiro e preciso me apegar no exemplo dado pelos anônimos que se atiraram nas águas para resgatar desconhecidos; naqueles que abandonaram suas atividades para organizar donativos para diminuir um pouco o sofrimento do próximo; ou em quem doou o que podia, cada um com a sua realidade. Foi com gente assim que a humanidade chegou até aqui, e estes exemplos são inspiração e energia para sigamos adiante, apesar de tudo.