Aos 57 anos de idade, e com 31 de experiência como professor na UCS, Evaldo Kuiava recebeu na última semana uma nova missão. Ele foi eleito para comandar o Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra) para o biênio 2024-25. Após a experiência como reitor da universidade por dois mandatos, entre 2014 e 2022, ele revela nesta entrevista que quer usar o conhecimento acumulado para fazer com que a entidade se consolide como fomentadora de novos projetos e da união dos municípios da região.
Como surge para o senhor essa questão da presidência do Corede?
Surge dentro de um contexto da própria história da UCS dentro do Corede, tanto que o primeiro presidente foi o ex-reitor (Ruy) Pauletti. Eu não tinha no horizonte assumir, porque estou focando agora na pesquisa, coordenando o mestrado em Filosofia. Mas aí surgiu o convite, muitas pessoas me incentivaram, e decidi contribuir dentro de um contexto que eu entendo que cabe, para que o Corede tenha uma visibilidade maior e uma participação muito mais efetiva naquilo que nós temos que pensar e colocar prática para região.
Conforme dito pelo senhor, a UCS tem um envolvimento orgânico muito grande com o Corede. A sua eleição é a continuidade desta tradição?
A UCS nasceu para ajudar no desenvolvimento da região, e a história da universidade e do Corede se confundem naquilo que a gente quer para que a região seja muito mais próspera, que as pessoas possam viver todas com mais dignidade. Nós temos um status de desenvolvimento, mas há muita pobreza e muita desigualdade ainda, muita gente desempregada. Temos grandes desafios para que sejamos mais prósperos em todas as dimensões.
O mundo mudou bastante desde a criação dos Coredes, da década de 1990. Hoje, o que o senhor vê como principal missão do conselho?
Nós temos um planejamento até 2030, que envolve saúde, educação, segurança, desenvolvimento econômico, meio ambiente, habitação, urbanismo e infraestrutura regional de transportes, necessária para os eixos principais. Nós vamos também trabalhar com alguns grupos de trabalho, e nos reuniremos para definir e escolher os líderes de cada área. Acredito que temos que nos focar na questão do agro, na produção de alimentos mais baratos e mais saudáveis, junto com Emater, Ceasa, sindicatos patronal e de empregadores rurais. Na questão do Turismo, precisamos avançar muito, e temos pesquisas enormes. Evidentemente que a saúde continua como tema, pois precisamos que as pessoas tenham mais acesso à saúde como um todo. Além disso, temos que pensar a região como um todo, não só Caxias do Sul, na questão da sustentabilidade ambiental e destinação conjunta de resíduos. E outros temas, como água e irrigação, energias renováveis, produção de hidrogênio, rodovias e estradas municipais, a questão metropolitana da região, que está meio parada, e um projeto muito importante eu chamo de InovaEdu, que trabalha nesse aspecto de agregar questão da educação e junto com inovação e novas tecnologias.
O senhor falou dos resíduos, como exemplo da necessidade de união da região. No entanto, outros temas citados, como desenvolvimento econômico, turismo e saúde, também deveriam receber um trabalho conjunto dos municípios. Como pretende fomentar isso?
Acredito que, respeitando a diversidade dos pontos de vista político, interesses e assim por diante, nós temos que construir consensos. É possível, sim, diante dessa diversidade que nós temos, colocar grupos juntos para discutir e debater, e focar naquilo que nós podemos fazer. Claramente eu disse no dia da eleição, que ou a gente avança dentro dessa lógica e aprende a trabalhar juntos, ou nós não vamos avançar. Então, eu sou enfático nesse sentido, porque é o caminho. A gente pode divergir, mas precisa ter um fio condutor. Eu acredito na possibilidade de liderar nessa perspectiva, e isso me desafiou a assumir o Corede.
Uma das questões que marca a ação do Corede é a Consulta Popular. No entanto, muitas vezes ela é criticada, pois tem poucos recursos à disposição. O senhor pretende trabalhar junto ao Estado para aumentar as verbas repassadas?
Sim, com certeza, pois o envolvimento das pessoas também é extremamente importante. Vejamos de novo o exemplo dos resíduos: se a população não colaborar, fica muito mais difícil aumentar recursos. E também é preciso focar em novas estratégias. Não adianta buscar R$ 500 mil ou R$ 1 milhão para resolver um problema pontual de saúde em Caxias ou região. Isso é um recurso que muitas vezes não gera uma solução efetiva. É preciso analisar outros aspectos, que possam gerar um resultado mais definitivo. Enfim, acho que a crítica à questão dos recursos é justa, e precisamos avançar em torno disso.
São muitas frentes de trabalho e demandas. Há algum projeto específico que o senhor gostaria de priorizar?
Tem um projeto que, para mim, é muito caro, no quesito cidades inteligentes. Mas defendo o conceito de trabalhar com comunidades inteligentes e humanas, pois este último aspecto é fundamental. É preciso construir a ideia de que as comunidades possam agregar a tecnologia a tudo que nós temos de melhor, mas para buscar soluções efetivas e gerar aquilo que a gente chama de um PIB humano, uma felicidade humana bruta, e não levar em conta só o aspecto econômico. Não adianta botar câmara para olhar as ruas esburacadas ou quem assaltou quem. Nós temos é que criar comunidades e ambiente de convívio. Que a tecnologia seja serviço do bem-estar, e não só para controlar de alguma maneira as mazelas que acontecem no meu bairro. Então, eu quero gerar um debate em torno disso, e o conselho tem legitimidade para levantar essas questões, porque os Coredes surgiram com essa prerrogativa e propósito.