Foi de tom bastante otimista a entrevista do presidente da Comissão Comunitária da Festa da Uva, Fernando Bertotto, à Gaúcha Serra nesta terça-feira (30). Nada anormal, ainda mais às vésperas da festa, poderiam imaginar alguns. Mas havia muita expectativa sobre o que ele diria, especialmente após o razoável volume de críticas ao repasse de R$ 6 milhões aprovado na semana passada pela Câmara de Vereadores à organização do evento.
A tranquilidade de Bertotto se baseia nos números apresentados. Segundo ele, com o que já está garantido em termos de faturamento e mais o que se projeta de bilheteria, haverá dinheiro suficiente para pagar as despesas de 2024 e as dívidas da última edição. O custo de realização do evento é de R$ 17 milhões, para uma arrecadação de R$ 21 milhões, e esse excedente será para liquidar as pendências.
É um otimismo justificado. Embora ainda dependa do valor da bilheteria, o que não pode ser medido com antecedência, é um quadro bem melhor do que se projetava há algum tempo. A aprovação do repasse da prefeitura, feita próximo ao começo do evento, deu uma impressão de correria e passou a ideia de que havia maiores dificuldades para fechar a conta, o que parece não ser a realidade.
Aliás, sobre esse repasse, Bertotto ressaltou que essa verba já estava prevista há bastante tempo e que, por razões internas da prefeitura, que ele não sabia determinar, o projeto não foi feito antes. O presidente foi enfático ao defender esse tipo de repasse, pela importância econômica que a festa tem:
— O repasse da prefeitura já é meio que tradicional e ele deveria ser até compulsório, porque para viabilizar uma festa do tamanho da Festa da Uva é necessária a participação do poder público, e esse recurso vem para ajudar no orçamento, que é vultuoso, de R$ 21 milhões, incluso o valor do passivo que temos para pagar ainda. Ele é superimportante e vai adequar o nosso orçamento para viabilizar a festa — argumentou.
Acredito que o tom otimista se justifica, pois uma nova edição com problemas financeiros seria um verdadeiro desastre, pois comprometeria a credibilidade da Festa da Uva. É um alívio saber que isso não acontecerá.
De qualquer forma, sempre haverá questões a repensar e uma delas é a divulgação. Foi interessante a franqueza de Bertotto ao tratar dos problemas de visibilidade da festa. Ele admitiu que há um déficit na ambientação da cidade e no marketing geral e ressaltou que nos próximos dias vai começar uma ação mais efetiva neste sentido, na base do antes tarde do que nunca.
Aliás, mesmo pagando as contas e cumprindo seu papel comunitário, será fundamental uma reavaliação geral sobre a Festa da Uva. O modelo atual se sustenta no longo prazo? Os repasses de verba pública são justificáveis? Temas para o debate a partir de 4 de março.