Inaugurada no último sábado (20), a ponte construída pela comunidade de Nova Roma do Sul segue repercutindo. Nesta segunda-feira (22), chamou a atenção um vídeo postado pelo governador Eduardo Leite nas redes sociais tratando do assunto. O conteúdo não chega a ser diferente do que havia sido dito por ele em entrevista à Rádio Gaúcha Serra na semana passada, mas o fato de o chefe do Executivo se manifestar sobre o tema é curioso e interessante.
Por mais que Leite tenha elogiado a iniciativa da população da Serra, não tenho dúvida que a situação deixou ele e outras autoridades pressionadas e incomodadas, e o fato de vir a público dar explicações só comprova isso. O fato é que, mesmo sem querer, a iniciativa jogou luzes sobre a terrível lentidão que envolve os processos públicos de construção, inclusive os ditos emergenciais, e provocou uma cobrança enfática da população.
Acredito que a intenção da comunidade nem era essa. Nova Roma começou a mobilização por uma questão de pragmatismo, pois se deu conta que, se dependesse do poder público, ia ficar um longo tempo sem uma ligação próxima com as maiores cidades da região. Isso traria terríveis consequências econômicas e sociais para a cidade, e então se iniciou a campanha que redundou na grande inauguração do último fim de semana. Nada de política ou insubordinação. Apenas instinto de sobrevivência.
No entanto, o sucesso da campanha tornou inevitável a comparação com a demora de outras iniciativas de recuperação das enchentes. Para ficar no exemplo mais flagrante, enquanto a ponte foi reinaugurada em 138 dias, a balsa que vai ser instalada em outro ponto do Rio das Antas, algo em tese bem mais simples, ainda nem chegou. Esta dificuldade de resposta não é unicamente culpa do atual governador, pois é um processo histórico do RS e do país, onde as iniciativas públicas, por mais que se entenda que precisem de cuidado e controle, andam muito devagar.
Mas como Eduardo Leite é o governador de plantão (como ele mesmo citou), o ônus e a cobrança têm que recair sobre ele. Nesse sentido, não cabe, por exemplo, uma das justificativas apresentadas no vídeo, de que não poderia investir para reconstruir a ponte, já que ela não segue padrões atuais de construção, e por ser provisória, não poderia receber recursos públicos.
Acontece que a antiga ponte só foi ressuscitada porque Nova Roma do Sul não sentiu firmeza nas promessas do Estado. Se desde o início tivesse sido apresentado, com agilidade, o projeto da nova travessia, e fosse dado um prazo plausível de execução, provavelmente a ideia da reconstrução nem tivesse prosperado. Ou seja, a iniciativa surgiu no vácuo da ação do Estado, e não como uma concorrência.
A melhor resposta que pode ser dada por Leite é agilizar, tal qual ele promete no vídeo, a construção de uma ponte mais moderna. Enquanto isso não acontece, o melhor é valorizar o papel da ponte atual e tirar lições do episódio, especialmente para compreender por que as pessoas estão acreditando cada vez menos em promessas de governantes.