Dois dias depois da inauguração da ponte viabilizada com recursos de doações da comunidade, o governo do Estado se manifestou, por meio de um vídeo divulgado nesta segunda-feira (22), sobre os planos para a ligação sobre o Rio das Antas, entre Nova Roma do Sul e Farroupilha.
No escritório do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), o governador Eduardo Leite elogiou a iniciativa da população e explicou os motivos pelos quais o poder público não pôde viabilizar a estrutura por conta própria. Segundo ele, a solução é provisória e o dinheiro público não poderia financiar uma ligação nas mesmas condições daquela que foi destruída pela enxurrada de 4 de setembro de 2023.
— Vamos falar a verdade: se estivéssemos inaugurando com recursos públicos, nesse momento, uma ponte nas mesmas condições da ponte que foi levada, estaríamos recebendo, muito provavelmente questionamentos dos órgãos de controle e da própria sociedade em fazer a ponte do mesmo jeito daquela que não resistiu — disse.
De mão única e acesso perpendicular, o desenho da Ponte Nossa Senhora de Caravaggio é uma réplica da ponte centenária que caiu em setembro. Já o governo do Estado planeja a construção de uma ligação de pista dupla e com vão maior daquela que hoje liga os municípios pela RS-448.
— A ponte é monovia, não passam dois carros, e tem outras questões que limitam o uso, e faziam com que não pudesse ser feita com recursos públicos. A solução definitiva, que o Estado encaminha com projeto já contratado é uma outra ponte, em diagonal e com vão de 180 metros, pista dupla e em concreto — explicou.
Dois dias antes da nova ponte de ferro ser inaugurada, Leite informou em entrevista ao Gaúcha Hoje que o governo federal havia retirado o projeto definitivo da lista de obras emergenciais. De acordo com o governador, o Ministério da Integração, o governo federal e a Defesa Civil Nacional, que poderia aportar recursos, recusaram o aporte porque a implantação da ponte de ferro tirou o caráter de emergencialidade de uma nova ponte.
Sem detalhar o valor da obra, de onde viria o recurso e o cronograma previsto para a obra, Leite confirmou que o projeto da ponte a ser construída pelo poder público é mais cara, mas que está “em vias de ser encaminhada para a Central de Licitações do Estado”.
Ao fim do vídeo, Leite voltou a parabenizar a comunidade, e disse estar trazendo a verdade para a população:
— Muita gente quer fazer exploração política desse momento, mas cabe a mim trazer como governador a verdade e os fatos para que a população possa acompanhar tudo que estamos fazendo pelo desenvolvimento do estado — concluiu.
De acordo com o Daer, técnicos vinculados à Secretaria de Logística e Transportes (Selt), devem finalizar o anteprojeto da nova ponte em fevereiro. Em março, o documento será encaminhado para a Central de Licitações do Estado (Celic).
Ainda segundo o departamento, a nova estrutura será erguida ao lado da atual, com capacidade para veículos de até 45 toneladas, com duas vias e acostamento nas duas laterais.
— A nova ponte é o que Nova Roma do Sul precisa para o futuro, para crescer ainda mais. O Estado está apresentando uma solução definitiva, fará a substituição de uma estrutura centenária. A nova ponte será muito importante para a logística da região e para a economia destacou o secretário da Selt, Juvir Costella.
A previsão de custo, segundo o governo do Estado, dependerá da reestruturação orçamentária, que será finalizada em fevereiro. Quanto ao prazo de conclusão da obra, só será definido após a definição do orçamento.
Ponte Nossa Senhora de Caravaggio já é usada para trânsito de pacientes
O primeiro veículo a cruzar a ponte durante a inauguração foi uma ambulância de Nova Roma do Sul. O trânsito de pacientes para consultas e emergências ao Hospital São Carlos, em Farroupilha, era a principal demanda e angústia da comunidade que ficou 138 dias sem a ligação. Além disso, o objetivo da Associação Amigos de Nova Roma do Sul ao construir a ponte foi escoar a produção de uva da cidade. Depois da construção da ponte definitiva, a ideia é que a estrutura seja um atrativo turístico da região.
Pouco mais de 24 horas depois, o mesmo veículo voltou a cruzar a ponte, dessa vez não de forma simbólica mas, sim, levando uma paciente com suspeita de infarto. A agricultora Janete Fraron, 53 anos, cuidava da sogra no sábado (20) quando chegou a se perguntar quem seria a primeira pessoa a passar pela ponte dentro de uma ambulância.
— Minha sogra pode ter sido a última pessoa a ter passado por ali antes da ponte ter caído. Foi uns quatro dias antes, ela quebrou o fêmur e quando teve alta já não tinha a ponte. Precisamos voltar por Antônio Prado em uma viagem bem cansativa para ela. Estávamos assistindo a inauguração de casa e comentei isso com ela, sobre quem seria a primeira pessoa a precisar da ponte de novo — contou.
Quis o destino que fosse a própria Janete, que já se recupera bem e em casa. Por telefone, a moradora da comunidade de São Luiz, distante cerca de oito quilômetros do centro de Nova Roma, falou sobre a alegria de poder voltar a contar com a ponte:
— Imagina acontecer alguma coisa de emergência e ter que ir até Antônio Prado. Para Caxias tem a balsa, mas por Farroupilha era muito complicado. Jamais imaginei que seria eu a primeira. Quando passamos, eu estava deitada, mas a enfermeira que me acompanhava disse que tinha muitas pessoas por lá visitando a ponte — conta.