Aconteceu em 1981. Ou, talvez, em 82. A data, no fundo, não importa muito. Que eu me lembre, foi o primeiro presente que pedi para o Papai Noel, e tanto tempo depois é interessante ver como algumas coisas tão simples podem marcar pelo resto da vida, como uma das melhores lembranças que tenho do Natal.
Lembro até razoavelmente dos fatos, mas felizmente ainda conto com a presença dos meus pais para acrescentar detalhes nesta história. O caso é que, embora até tenha recebido sondagens sobre outros presentes, coloquei na cabeça que, para aquele Natal, eu queria um carrinho do Batman. Assim, do nada, sem muitos detalhes, e sem explicar de onde tinha tirado a ideia, e nem como era esse brinquedo.
Meus pais, carinhosos como sempre foram, decidiram ir até o Centro, nas lojas, para ver se encontravam o bendito. E correndo os riscos que isso trazia, como o de ser um brinquedo caro, ou de simplesmente não achar o que o pequeno teimoso queria.
A saga foi se estendendo pelos comércios tradicionais de artefatos infantis do início da década de 1980 em Caxias do Sul: Bazar Nair, Bazar Luizinha, entre outros. E nada do tal carrinho. Então se optou por ir nas grandes lojas, como Arno, HM e Casa Prataviera, e nem sinal de encontrar.
Vieram sugestões interessantes de outros presentes, como uma bola da seleção, um avião a pilha da Varig (lindo, por sinal) ou outro carrinho, mas o birrentinho batia o pé, pois queria o tal carrinho do Batman. Já meio no desespero, meus pais lembraram de uma loja de utilidades domésticas, mas que também tinha brinquedos, o Mundo dos Plásticos, na Avenida Júlio de Castilhos. Quem sabe...
E eis que, logo ao entrar na loja, em um balaio dos opções mais baratinhas, lá estava o tal carrinho! De plástico, todo preto, com um acrílico simulando o para-brisa para os bonecos do Batman e do Robin. Corri e peguei logo o meu, para não ter risco de que o Papai Noel não encontrasse mais ele.
Meus pais respiraram aliviados, pois além de se livrarem do pepino, constataram que aquele batmóvel de plástico era bem acessível. Sabe-se lá quantos cruzeiros custava, mas tendo por base algumas coisas semelhantes da atualidade, dá para imaginar que fosse algo como R$ 30 ou R$ 40. Problema resolvido!
Passados mais de 40 anos, e estando novamente na época de Natal e fim de ano, que naturalmente nos convida a refletir, é interessante ver que um episódio aparentemente corriqueiro como esse me traz lições. A primeira é que, por mais batido que possa parecer, a felicidade pode estar, sim, nas coisas mais simples. Em muitos momentos, o batmóvel de plástico (e não o carrinho ultramoderno) é suficiente, e as crianças de ontem e de hoje nos ensinam isso.
A segunda lição é a do afeto. Não é o dinheiro gasto, e sim os minutos destinados aos anseios de alguém próximo a nós que vão criar os melhores laços. Sem a paciência e atenção dos meus pais, essa lembrança marcante não teria existido para mim. Então, aproveite os momentos junto de que quem você gosta, por mais simples que eles possam parecer hoje.
Feliz Natal!