Uma das ações mais comoventes de mobilização comunitária na Serra nas últimas décadas está ocorrendo neste momento em Nova Roma do Sul. Atingida pela tragédia das enchentes no início de setembro, quando ficou sem sua principal ligação com as maiores cidades da região, a população decidiu refazer, por conta própria, a ponte que foi levada pelas águas do Rio das Antas.
Após o choque inicial causado pelo fato, os cidadãos entenderam rapidamente a situação que estava diante deles. Ou agiam e tentavam buscar uma solução, ou veriam a cidade estagnada por um longo período. A primeira previsão do Estado (até otimista, levando em conta o ritmo das obras no RS) era que uma nova ponte seria reconstruída até o fim de 2024. Depois, a data já passou para 2025 e agora já nem se fala mais em prazo.
O fato de os pilares da antiga ponte terem ficado intactos permitiu que uma alternativa óbvia fosse tentada: reconstruir a estrutura. Com o Estado divagando sobre a nova obra, a Associação do Amigos de Nova Roma do Sul tomou a frente e iniciou a campanha para arrecadação dos recursos. Uma ampla campanha, com almoços comunitários, rifas e eventos, foi organizada rapidamente. Empresas e pessoas físicas começaram a ser estimuladas a doar.
O resultado é que, dos R$ 6 milhões previstos, mais de R$ 2,5 milhões já foram arrecadados, e a campanha segue a todo vapor. Os primeiros materiais para a reconstrução chegaram na última quarta-feira (15), e não tenho dúvidas de que todo o dinheiro necessário vai ser buscado. É um incrível exemplo de determinação e mobilização que aquela comunidade está dando para o país. Uma luta pela sobrevivência econômica e bem-estar da população, que merece aplausos e muito apoio.
Porém, é preciso que esse esforço não seja em vão. A ponte reconstruída resolve o problema urgente do isolamento de Nova Roma do Sul, mas temo que acabe sendo uma desculpa para que o trabalho definitivo não seja feito. Na hora de pesar onde investir o dinheiro, há o risco de o Estado argumentar que, bem ou mal, esta comunidade estará atendida e, então, o acesso mais moderno, que deveria já ter sido construído há muito tempo, será adiado indefinidamente. Me arrisco a dizer que é bem provável que isso aconteça.
Além disso, a campanha para reconstrução da ponte pode, inclusive, reforçar uma imagem distorcida, de que “os gringos conseguem se virar”. Essa visão, já percebida por diversas lideranças que vão em busca de investimentos para a região, historicamente tem causado muitos danos, pois torna a Serra, de alguma forma, refém do próprio sucesso.
Isso está presente na realidade que vivemos hoje, onde a área mais rica do Estado tem uma malha viária muito insuficiente, não dispõe de um aeroporto condizente e jamais foi beneficiada por uma universidade pública, só para citar algumas das questões mais visíveis. Esta reflexão invalida o que está sendo feito em Nova Roma do Sul? De forma nenhuma. Como já disse, a iniciativa é elogiável, mas precisa ficar bem claro que é uma ação emergencial, de uma comunidade preocupada com seu futuro imediato, e que resolveu arregaçar as mangas e ir à luta.
O fato é que a busca por soluções definitivas e melhorias deve ser mais enfática, e a cobrança ao governo do Estado e à União precisa ser constante. Os gringos sabem se virar, sim, mas já está na hora da região ter um mínimo de retorno por tudo o que produz.