Sim, faz anos que não como carne. E não, não foi de uma hora para outra. Primeiro eu parei com a de porco, depois de gado, depois com o frango e por fim com peixe. Hoje não consumo nada de origem animal. Tornar-se vegetariano ou vegano é um processo lento e solitário. As pessoas costumam me perguntar por que me tornei vegetariana. Como se ser vegetariano fosse uma afronta. Os motivos são muitos, mas posso enumerar pelo menos três que foram decisivos. Primeiro por uma questão ética. Ser vegetariano não é sobre você. É sobre o outro. Se todos somos parte de um único mundo e se desejamos uma vida mais leve, amorosa, conectada com o meio ambiente e com a própria espiritualidade, consumir carne ou qualquer produto de origem animal ou derivados de sua exploração, é um contrassenso. É mais ou menos como pregar uma coisa e fazer outra. Ser vegetariana ou vegana é parar de pensar somente em si e se colocar no lugar do outro, de fato.
Segundo motivo, por questões de saúde. As pessoas que dizem que os vegs consomem somente industrializados ou frituras em excesso e tem uma péssima alimentação, não sabem nada sobre o assunto. Basta procurar no google que há inúmeras pesquisas científicas que falam sobre os benefícios de uma alimentação sem carne. Há uma infinidade de modos de preparo de alimentos vegs que saciam qualquer paladar sem deixar nada a desejar. O essencial é ser criativo e estar disposto a cozinhar ou procurar por restaurantes que tenham esse cuidado. Cada vez mais o mercado está se dando conta dessa mudança e é possível comprar alimento vegano de ótima qualidade na esquina de casa. Segundo dados do IBOPE de 2018, há hoje em nosso país 40 milhões de pessoas que se declaram vegetarianas. Somos 20% da população nacional.
O terceiro motivo tem a ver com o meio ambiente. Não é mais possível negar que a criação industrial de animais causa forte impacto ambiental negativo, tanto localmente quanto no planeta. A devastação de florestas, a desertificação do solo, a poluição gerada com consequente contaminação de mananciais aquíferos, a distribuição e a ocupação de terras sem planejamento, entre outras práticas observadas atualmente geram impactos na produção da carne. Dados da ONU para a FAO mostram que 80% da produção de milho e da soja plantados no Brasil são destinados à alimentação de animais. A Sociedade Vegetariana Brasileira está com uma iniciativa para quem quer entender mais sobre o vegetarianismo. Abril Vegano é o nome da campanha que convida as pessoas a participarem de rodas de conversa, debates, encontros presenciais e leituras sobre o tema.
A ideia não é polemizar, cada um faz o que bem entende de si e de seu corpo. Mas comer é um ato político. Ser veg é uma filosofia de vida. Quando buscamos uma alimentação atenta aos impactos éticos, ambientais e de saúde nos damos conta de que somos parte deste planeta e temos responsabilidade sobre nossos posicionamentos. Não somos mais e nem melhores do que ninguém e isso inclui os animais.