Diálogo. Eis uma palavra revolucionária e, talvez, por isso mesmo, pouco usual. Desejamos tanto a comunicação, mas comunicar-se com alguém, de fato, é da ordem das falésias. Um rochedo intransponível se coloca exatamente no meio das pessoas. Escalar o respeito mútuo e a diversidade de pensamentos parece uma tarefa impossível. Comunicar é uma arte, mas somente a prática capacita o entendimento. Quantas e quantas vezes rompemos em discussão sem nem ao menos escutar o que o outro tem a dizer? Quantas e quantas vezes fazemos ouvidos moucos? Em se tratando de falta de entendimento não há santos. Todos nós, em algum nível, detonamos com a possibilidade de dialogar. Daqui em diante o que sobra é explosão, dinamite, fogo, incêndio e queimaduras. Conversas de ataque e mágoas se alastram feito pólvora e durarão um tempo considerável. Somos experts em nos machucar. E mesmo que se busque ajuda, há ditos que se transformam em malditos e nem mesmo uma terapia consegue dar conta.
Somos uma raça de pessoas bélicas. Homens e mulheres. Estamos sempre dispostos a uma confusão. Os nossos bolsos estão recheados de pedras e bombas caseiras. Ninguém escapa. Os de longe são atingidos por serem estranhos, os de perto por serem da família. Aliás, talvez receber fogo amigo seja o mais dolorido de todos os ataques. Gente que sabe como vivemos, conhece nosso íntimo e feito um “Cavalo de Tróia”, quando menos se espera, nos ataca justamente por dentro. Em questão de exército, alguns são mais ativos, falam, esbravejam, se colocam na linha de frente e fincam firmemente sua posição de certeza no território alheio. Colonizam nossos afetos, destroem nossas barreiras, chafurdam em nossas lembranças mais profundas. Outros são mais passivos, fogem, se isolam, buscam refúgio em si mesmos, ficam entrincheirados na falta de palavras, choram, se calam, mas nem por isso deixam de alimentar em si o fogo da raiva destemperada. É inevitável que nos machuquemos.
Alguns de nós procuram aliados, outros que comprem nossa versão na história, mesmo que não saibam do que se trata de fato. Gente que precisa de testemunha. Que se abre a discutir na frente dos outros, no meio de um jantar, causando mal-estar em todos que estão presentes. Não se trata de uma inconveniência, mas sim de uma artimanha, mesmo que inconsciente, em busca de plateia. Lavam a roupa suja na frente dos outros. Só não se dão conta do quanto de ódio é ali semeado. Outros, são violentos passivos, usam o silenciamento como máquina mortífera para atingir o outro, que desesperado, se consome em culpa e falta de compreensão. Não há meio termo entre o grito e o silêncio mortal. Ambos matam qualquer sentimento de amor.
Freud tinha razão, nascemos ruins e alguns de nós vão morrer assim. O que mais escuto são pessoas dizendo que desejam ser mais leves. Dialogar é a decisão mais importante a se tomar. Deveríamos dialogar por amor à vida e a nós mesmos. Mas, na maioria das vezes, fazemos isso por medo da morte e por saber que fomos maus uma vida inteira.