Assisti no fim de semana o filme Céu da meia noite, de George Clooney. O filme é de 2020 mas se passa em 2049. Filmes de ficção científica me remetem à adolescência. Criam uma ponte com aquela garota sardenta que imagina a descoberta de novos mundos, viagens espaciais, contatos de terceiro grau. Lembro que quando tinha uns 13 anos ganhei do meu pai um gravador de bolso. Então, como morava na colônia, saía para debaixo das árvores, no meio da plantação de feijão, ligava o gravador e ficava esperando que alguém de alguma outra dimensão se comunicasse comigo. “Alô, olá, há alguém aí?”, era como começava meu contato. Depois da escola e dos temas feitos, a melhor brincadeira era gravar o silêncio e na sequência decupar o inaudível. Haveria ali alguma voz extraterrestre captada com dificuldade por causa do equipamento miserável que eu possuía? Haveria ali algum balbucio que indicasse outra forma de comunicação tão desejosa quanto eu de entrar em contato? Se a Nasa podia, porque eu não poderia? Óbvio que nunca gravei nada de estranho. Ao fundo apenas o som do vento nas árvores e os passarinhos. De vez em quando algum cachorro da vizinhança latindo ao longe. Apesar da frustração, o amor por esse tipo de filme ou livro sempre me acompanhou.
Ainda buscamos formas de contato com o outro, independente da nossa idade e do tipo de equipamento que possuímos. A diferença é que com 13 anos procurávamos extraterrestres, hoje procuramos por humanos, uma raça em extinção. Procuramos por pessoas que se sintam tocadas pela dor do outro, pessoas que ainda sonham com um mundo possível. Pessoas que fazem a separação do lixo, que economizam a água do planeta, que ao receberem fakenews não repassam antes de checar. Procuramos por pessoas que gostem de poesia, de cultivar flores e se preocupam mais com a vida do que com o material. Pessoas que apesar de sentirem raiva controlam o impulso, se afastam e abrem mão da discussão e da razão. Pessoas que sabem não serem onipotentes e por isso rechaçam a arrogância. Procuramos por pessoas que saibam orar de coração, fechar os olhos e fazer um pensamento bom para o mundo que habitam. Pessoas que no impulso escrevem e falam coisas horríveis, mas sabem se arrepender e pedir desculpas. Procuramos por pessoas que sabem a dor de ser quem são, mas estão em busca constante para tentar mudar. Pessoas que se machucam, sangram e mesmo assim seguem adiante espalhando sementes de coisas boas. Procuramos por humanos. Alô, olá, há algum humano aí, você me ouve?
O filme de Clooney fala de arrependimento, Terra radioativa, busca por outros planetas, redenção e ainda apresenta um fio de esperança para a humanidade. A película é uma adaptação do livro Good Morning, midnight, escrito por Lily Brooks-Dalton. A previsão da estreia do livro por aqui é neste primeiro semestre de 2021. Vale a pena assistir, para relembrar o quanto ainda somos os mesmos e o perigo que isso significa para este planeta.