Há dias em que somos atingidos por uma tempestade de areia. Somos esfolados pela vida. A pele, os olhos, o pensamento são arranhados e a nossa carne se parte ao meio. Ficamos tristes. A areia nos chicoteia golpes precisos através dos ventos que nos sacodem. Algo dentro de nós se desorganiza. As dores do presente se somam as do passado. Perdemos a noção se quem sente tem 60 ou seis anos. Então aos poucos vai passando, pois sempre há um dia seguinte. Descobrimos que sobrevivemos. Descobrimos que nossa alma ainda guarda muitas pétalas e que a vida é feita de camadas. O rio dá água sem cessar. Silencioso ou ruidoso, segue. Enquanto a vida corre, forjamos nosso rio interno. Às vezes caudaloso, às vezes minguado. Mas sempre rio. Sempre água. Sempre vivo. Cada um de nós carrega em si um desejo de mar. E seguimos como quem busca o oceano ou o encontro consigo mesmo. Eu já nasci descendo a serra. No mar, o céu perde as nuvens para as aves.
Vivendo
Somos caramujos fechados em si mesmos em dia de sol
Somos chamados constantemente a ser e ser é viver atravessado pela realidade de si e dos outros
Adriana Antunes
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