A noite pode ter sido boa, mas não sabemos se foi o despertador, o travesseiro ou o barulho do ventilador, mas mal abrimos os olhos e já estamos irritados. E isso só aumenta com o passar dos minutos. Vamos ficando cada vez mais rabugentos e mal humorados. Nestes dias lembro sempre de Caio Fernando Abreu, há dias, dizia o mestre, que acordamos sem nada (ou para o nada). Nada de real nos acomete, mas há uma espécie de tudo que nos esmaga, assim como o sol de janeiro que chega queimando tudo. Não há uma solução feito lista de supermercado que se possa escrever num espaço como este de quase três mil caracteres, mas creio que um bom jeito de tentar acalmar a fera que despertou em nós às 7h e além do mau hálito e da cara feia sente vontade de comer o fígado de alguém (e coitado do primeiro que cruzar pela frente), é aceitar que há dias que não acordamos bem. Dias em que nos sentimos feios, chatos, irritados, com vontade de chorar, de não ir trabalhar, de não responder as mensagens de Whats, de cancelar a terapia, de não escovar os dentes nem pentear o cabelo e temos raiva de todas as fotos lindas que alguém postou no Instagram.
Dias descoloridos
Há dias que não acordamos bem
Mas são dias em que nosso pequeno selvagem vem para fora, bate portas, o pé, mal dá bom dia
Adriana Antunes
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