A segurança na reserva indígena de Cacique Doble ganhou reforço nesta terça-feira (5), após novo conflito que resultou na morte de uma adolescente de 13 anos. Dois irmãos dela ficaram feridos após um ataque a tiros na noite de segunda (4).
De acordo com familiares, os três estavam dentro de casa quando foram surpreendidos por um grupo que invadiu a residência e atirou. Paola Rodrigues, 13 anos, chegou a ser socorrida mas não resistiu aos ferimentos. Já os irmãos, uma adolescente de 15 e um jovem de 23 anos, também ficaram feridos.
Agentes da Força Nacional, policiais federais e cerca de 30 militares de toda a região trabalham para estabilizar o conflito.
— A disputa não é de hoje, se mantém há um bom tempo. Existe uma equipe da Força Nacional presente para atender casos relacionados aos indígenas, mas mobilizamos todos os efetivos da Brigada Militar de municípios vizinhos, além do Batalhão de Choque para dar esse reforço — afirma o comandante do 10º Batalhão da Brigada Militar, tenente-coronel Luiz Fernando Becker.
No momento, a Polícia Federal faz o levantamento do local e escuta testemunhas e pessoas próximas ao local onde ocorreu a morte de Paola. Não há presos. O Ministério da Justiça informou que a Força Nacional foi autorizada a permanecer no território por mais 90 dias, a contar de 1º de dezembro de 2023, após pedido do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
"O Ministério dos Povos Indígenas destacou a necessidade de atuação governamental para buscar soluções aos conflitos existentes e garantir a segurança das comunidades indígenas na Terra Indígena, em resposta ao risco de exposição das famílias indígenas à violência e ao risco de morte", disse em nota.
O corpo da adolescente assassinada é velado na tarde dessa terça-feira (5) e deve ser enterrado na quarta, às 9h, na própria comunidade indígena. Familiares e amigos pedem justiça pela morte de Paola e pela violência crescente no local.
— Tem mais crianças que convivem lá. Eles brincam, correm, não entendem o que é tiro. Mas é tiro todo dia, toda noite. A gente não consegue dormir porque a gente se preocupa. Já é uma coisa que vem de bastante tempo, faz mais ou menos 12 anos que essa disputa vem correndo. Só queria que alguém fizesse alguma coisa, está muito difícil pra nós — disse emocionada a tia da vítima, Regiane Pereira.
Conflito recorrente
A suspeita é de que o crime tenha relação com disputa pela liderança da reserva indígena Cacique Doble. Na madrugada do último sábado (2), pelo menos 13 casas foram incendiadas durante um confronto no município. Houve feridos após troca de tiros, de acordo com a Brigada Militar de Lagoa Vermelha.
Em 23 de novembro, ao menos cinco pessoas ficaram feridas durante briga e confronto com arma de fogo e, no fim de outubro, três pessoas foram presas em uma operação da Polícia Federal que buscou restabelecer a ordem e apurar crimes cometidos em meio à disputa de dois grupos pela liderança do local.
Em 1º de novembro, um novo líder foi eleito. A decisão aconteceu depois que o antigo cacique, Leonardo Manoel Antonio, foi preso em uma operação policial.