Um ano depois da anulação do primeiro júri popular do Caso Patrick, o policial militar, agora da reserva, Carlos César Fachini vai passar por um novo julgamento nesta terça-feira (8), em Passo Fundo.
Ele é acusado de tentativa de homicídio e lesão corporal contra dois irmãos, em junho de 2012. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, um deles, Patrick André Barbosa Forcelini, à época com 19 anos, foi espancado pelo homem e ficou com graves sequelas. Até hoje, ele precisa utilizar cadeira de rodas.
O crime aconteceu em uma festa de aniversário da filha do acusado. Os irmãos, Thiago e Patrick, estavam presentes quando houve uma briga. Carlos, então policial da ativa, teria intervindo e agredido os jovens.
Conforme exame de delito, Patrick sofreu "traumatismo crânio encefálico por um meio contundente". Ainda, segundo o laudo, "ocorreu perigo de vida, pois foi atingida a cavidade craniana". Thiago teve ferimentos leves.
As lesões deixaram Patrick em estado vegetativo no hospital por quatro meses. Quando recebeu alta, tornou-se totalmente dependente dos cuidados da mãe, Maria Forcelini. Ela conta que o filho só deixou de se alimentar por sonda após dois anos. Agora, a família revive a dor do caso com a chegada do novo júri.
— Ele chegou em casa e falou 'mãe, me leva no hospital, minha cabeça dói muito'. E foi a última coisa que ele me disse. Foi um sofrimento ver meu filho jovem, com a vida pela frente, acabar assim. Pra uma mãe isso é muito sofrido, eu tento amenizar a dor dele no que posso — relata Maria, emocionada.
Segundo Maria, o réu só passou a ajudar nas despesas do tratamento de Patrick após um processo que se arrastou por sete anos. Além dos custos com o filho, Maria também precisou abandonar o emprego para se dedicar aos cuidados do rapaz.
"Nada justifica tamanha brutalidade", diz a mãe
Agora, a expectativa da família para o novo julgamento é que a sentença ao menos seja mantida, se não for possível aumentá-la. No primeiro júri, Carlos foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão, inicialmente em regime fechado.
— Nada justifica tamanha brutalidade. Nós queremos justiça, estamos há 11 anos esperando a punição dessa pessoa que está em liberdade — disse Maria.
O julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça, a pedido da defesa, por uma questão formal envolvendo a ordem dos quesitos. No júri brasileiro, a regra processual determina uma ordem na sequência de apresentação dos fatos aos jurados, bem como o que diz a defesa e a acusação, o que não teria sido cumprido.
O júri está marcado para começar às 8h no fórum da Comarca de Passo Fundo. Antes do interrogatório do réu, serão ouvidas seis testemunhas, incluindo as duas vítimas. Após essa fase, iniciarão os debates. O Ministério Público e a defesa terão 1h30min cada para se manifestarem. Se tiver réplica e tréplica, o tempo será de uma hora cada.
O que diz a defesa
De acordo com o advogado de defesa do réu, Jabs Paim Bandeira, o novo júri é uma chance de "demonstrar com provas que ele [Carlos] não é autor do que causou a situação da vítima". A defesa alega que a briga aconteceu entre a vítima e outras pessoas presentes na festa, sem a interferência do réu.
— Vamos tentar demonstrar que, se existir dúvida, ele não pode ser condenado. Nós pedimos a anulação em razão dos quesitos, que foram além do normal. Ele tem presunção de inocência, queremos mostrar isso para o júri — diz o advogado.