Foram mais de seis anos de espera até que o condutor do Camaro que atropelou três pessoas em Florianópolis, em 1° de janeiro de 2017, fosse a julgamento. O júri aconteceu na quinta-feira (13) e o autor do crime, Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, foi condenado a cinco anos e 10 meses de prisão em regime semiaberto, por homicídio.
A sentença causou revolta em uma das vítimas. O passo-fundense Nilandres Lodi, hoje com 43 anos, perdeu a esposa naquela madrugada de revéillon na praia de Ingleses, na capital catarinense. Cristiane Flores morreu no local do acidente e Lodi precisou amputar as pernas. Um amigo do casal, na época com 22 anos, também ficou ferido. Para Nilandres, a pena não refletiu a gravidade do ocorrido.
Antes de ir ao tribunal, meu filho cobrou 'pai, vai lá e faz justiça pela minha mãe'.
NILANDRES LODI
vítima do caso
— Eu vejo que eles [réu e defesa] saíram ilesos, porque isso não é justiça. Ele tirou a vida de uma pessoa. Feriu meu amigo. Antes de ir ao tribunal, meu filho cobrou 'pai, vai lá e faz justiça pela minha mãe'. Quando voltei, tive que dizer que não temos justiça. O que ele vai pensar no futuro? Como fica a cabeça de uma criança? — questiona.
O filho do casal, hoje com 12 anos, vive com o pai em Florianópolis. Ele define Lucas como a fonte de força e perseverança depois do crime que mudou drasticamente suas vidas. Sem Cristiane e com a mobilidade limitada, Nilandres precisou recomeçar:
— Ele é meu principal motivo, é minha força de tudo. É uma criança que depende de mim, ele é deficiente físico e esse tratamento que a gente buscava, a gente busca até hoje, deixo de fazer algo por mim e faço por ele.
Lucas nasceu com uma paralisia no lado esquerdo do corpo e vai precisar de uma cirurgia quando chegar aos 14 anos. O procedimento custa em torno de R$ 150 mil e o pai, que é proprietário de uma loja de som automotivo, trabalha também para juntar recursos.
Sonho de voltar a andar
Sem as pernas, Nilandres adquiriu próteses na época do acidente, mas conta que até hoje não se adaptou aos aparelhos, que define como desconfortáveis. A barreira financeira impede que próteses de melhor qualidade possam ser adquiridas, já que custam cerca de R$ 500 mil, mas ele não abandonou a esperança.
— Tenho o sonho de ver meu filho bem, de poder fazer o tratamento dele. E também de voltar a andar, ainda tenho esse sonho. Mas hoje, tento me enxergar melhor na cadeira de rodas, porque antes eu não conseguia sair na rua. Porém as dificuldades de acesso a banheiros, restaurantes, por exemplo, fazem com que eu saia pouco — lamenta.
Recurso na Justiça
De acordo com o advogado de Nilandres, Roque Letti, a acusação deve entrar com recurso da decisão do júri, pedindo aumento da sentença para o réu. O motorista do Camaro foi condenado a cinco anos e 10 meses pelo homicídio, em regime semiaberto. Já pela tentativas de homicídio e pela omissão de socorro, o réu foi condenado a sete meses e 10 dias no regime aberto. Ele ainda poderá recorrer em liberdade.