O ano de 2022 seria o início de um novo ciclo para a médica Larissa Belke. Aos 24 anos, ela acabara de se formar na faculdade e saía de Passo Fundo em direção à Capital, onde começaria a residência de ginecologia e obstetrícia na Santa Casa de Porto Alegre. Seus planos, porém, sofreram um revés quando um exame de rotina mostrou um câncer de mama em estágio 1, sem qualquer sintoma ou mudança aparente na saúde.
O nódulo, que não era palpável, foi percebido através de um exame de imagem. Logo, os meses seguintes, que já seriam enfrentados em rotina hospitalar por conta das aulas e plantões, precisaram ser divididos com as sessões de quimioterapia e tratamento da doença.
— No início foi um “baque”, veio o medo e a angústia, sem saber o que ia acontecer. Por ser da área, eu sabia dos efeitos colaterais da quimioterapia. Mas tive o apoio da minha família e dos meus colegas. No fim, acabei me redescobrindo como pessoa — conta.
Com histórico familiar de câncer na mãe e avó materna, Larissa já sabia que tinha uma mutação genética que poderia causar a formação do tumor e, por isso, realizava os exames de checagem a cada seis meses. A mãe, médica pediatra intensivista Giovana Belke, enfrentou o tratamento duas vezes, aos 32 e aos 50 anos, e procurou ser a fortaleza da filha.
— Um diagnóstico com a gente é uma situação, mas quando é a tua única filha, jovem, passando pela mesma coisa, o mundo desaba. Não foi fácil. Mas eu tive que ter força para ela se mantivesse bem. Tive que me superar como mãe, como médica, e como uma paciente que já tinha passado duas vezes por isso — conta Giovana.
O tratamento
Passado o susto inicial, Larissa optou por fazer o tratamento em Porto Alegre. Lá, conciliou as sessões de quimioterapia com os estudos. Segundo ela, essa foi uma alternativa encontrada para se manter ocupada, tomando o exemplo da mãe, que também manteve a rotina de trabalho paralelamente ao diagnóstico da doença.
— O início foi difícil, porque o primeiro ano (da residência) é o mais puxado, e também por ter me mudado e não conhecer ninguém. Mas deu para conciliar e não parei em momento nenhum. As colegas me ajudavam nos plantões, tive muita ajuda e muito suporte — relata Larissa.
Em janeiro de 2022, ela passou pela cirurgia e um mês depois iniciou as sessões de quimioterapia, que se estenderam entre os meses de fevereiro e julho. Foram seis no total, intercaladas a cada 21 dias.
— A pior parte, sem dúvida, foi a estética, perder o cabelo. Eu não tive tantos efeitos colaterais, o que facilitou. Também complicou a questão da ajuda da família, mas a gente se dividia, uma vez a mãe ia (a Porto Alegre), outra a avó — conta.
“Apesar do câncer, a vida segue”
Depois do fim do tratamento, mãe e filha passaram a enfrentar a vida “apesar do câncer”. Para Larissa, o fim do tratamento foi uma mudança de chave na vida pessoal e profissional.
— Passar por isso muito cedo me fez querer aproveitar o hoje, não deixar nada para amanhã. Como médica, sei o que é estar do lado do paciente e sei como é a dor do diagnóstico, que é uma doença que dá medo e o tratamento é difícil. Mas dou meu conselho de como encarar e como passar por isso.
Para a mãe, essa foi mais uma vitória entre as experiências da família. Dali veio a certeza de que, unidas e com fé, todos os medos desaparecem.
— Apesar do câncer, a vida segue. Enquanto não há um diagnóstico do médico de que não tem mais o que possa ser feito, a gente tem que lutar — relata a mãe.
"O melhor tratamento é a prevenção"
Ficar atento aos fatores de risco, como fez Larissa, é uma das maneiras mais efetivas de prevenir o câncer de mama. A detecção precoce potencializa as opções de tratamento e a possibilidade de cura.
Mulheres com histórico de câncer na família devem começar a fazer os exames mais cedo e com mais frequência. Já as que estão fora desse grupo de risco, devem realizar mamografia de rotina dos 50 anos 69 anos de idade, com pelo menos dois anos de intervalo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
— O câncer já deixou de ter uma faixa etária para aparecer. Ele atinge todas as idades e o melhor tratamento é a prevenção. O medo existe, mas é algo que com fé a gente vence — resume a médica Giovana.
Até o fim de 2023, o Inca prevê que 73,6 mil novos casos de câncer de mama devem ser registrados no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), cerca de 5% a 10% dos casos ocorrem quando há familiares de primeiro grau com a doença. Isso significa que até 90% dos registrados de câncer de mama não têm origem hereditária. Por isso, realizar exames com periodicidade é essencial para identificar a doença o quanto antes.
— O medo do desconhecido pode te prejudicar ou te fazer descobrir quando não há mais o que fazer. A medicina já evoluiu muito e quanto antes se descobrir, melhor — finaliza Larissa.