Mais uma vez, o mês de setembro reforçou a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil. A doença está presente em quase oito mil crianças e adolescentes, entre 0 a 19 anos de idade, neste ano no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
De acordo com o médico coordenador do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, Pablo Santiago, 70% das crianças e adolescentes acometidas pela doença têm chance de alcançar a cura da doença atualmente.
— Por causa dos avanços na pesquisa médica e tratamentos mais eficazes, as expectativas de cura para o câncer infantojuvenil melhoraram significativamente ao longo das décadas — afirma.
O médico explica que sintomas como perda ou ganho de peso, febre persistente, suores noturnos e dor óssea, por exemplo, devem deixar as famílias em alerta. Os casos mais frequentes de câncer em crianças são de tumores no sistema nervoso central, tumores ósseos, leucemias e linfomas.
No HSVP, o Centro Oncológico Infantojuvenil é o maior do interior do Estado e conta com diferentes espaços de procedimentos. No total, cerca de 100 pacientes passam pelo local semanalmente.
Em sua estrutura, existe uma unidade de internação da oncologia pediátrica, com 24 leitos exclusivos, para o cuidado das crianças e adolescentes e acomodação das famílias, com atendimento de uma equipe multidisciplinar especializada.
Impressões que mudam
É no Centro Oncológico que está João Pedro Spohr Recchi, 17 anos, um dos pacientes do local. Diagnosticado com um tumor ósseo, o adolescente deixou Roque Gonzales, no noroeste do Estado, a cerca de 300 quilômetros de Passo Fundo. Num primeiro momento, ele fez uma consulta e realizou exames, antes de iniciar o tratamento com internação.
Ele conta com o acompanhamento da mãe, Maroni Spohr Recchi. Segundo ela, o tratamento vem dando sinais positivos para o filho, que chegou a ficar sem caminhar.
— Ele chegou de um jeito aqui (no hospital), quase não caminhava. E é claro que quando chega uma notícia dessas a gente se abala. Infelizmente, ainda se tem a impressão de que o câncer é algo incurável, mas aos poucos essa percepção está mudando, de que não é bem isso. Hoje o João poderia estar caminhando, mas ele ainda não está por recomendação médica, para evitar fraturas, o que complicaria o tratamento — conta a mãe.
Em um momento difícil, o acolhimento faz a diferença: Maroni relata que o atendimento de médicos e enfermeiros tem sido fundamental para a luta contra o câncer.
— Tem sido tudo fantástico com a nossa família. É um momento difícil, claro, mas a gente recebe muito apoio, hoje estamos bem seguros e acolhidos neste espaço — destaca.
CACC atende mais de cem crianças
Carinho, cuidado e acolhimento também são encontrados no Centro Assistencial à Criança com Câncer (CACC), da Liga Feminina de Combate ao Câncer, de Passo Fundo, mantenedora do espaço.
De forma gratuita, a casa realiza o acolhimento para 129 crianças atualmente, de 96 municípios. Destas, 70 estão em tratamento. No centro assistencial, as crianças e as famílias recebem assistência, acompanhamento psicológico e realizam suas refeições e higienes pessoais enquanto não estão no ambiente hospitalar.
A presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, Neli Formighieri, destaca que a prevenção ao diagnóstico de câncer é uma preocupação constante, o que torna o Setembro Dourado muito importante. Por isso, é fundamental realizar o acolhimento das famílias, sobretudo na recepção ao local e durante o dia a dia. O local atua de forma como um rodízio, com períodos diferentes para cada caso.
— Nós não somos médicos, não temos o acompanhamento médico, mas temos a assistência, em termos de uma boa receptividade, para se sentirem em casa. Para sentir aquele carinho de uma família, que é muito importante, não apenas com a criança em tratamento, mas com a família, que precisa de uma estrutura e suporte num momento como esse que estão com filhos doentes. O CACC é o local para eles se sentirem muito bem — pontua.
Sintomas e alertas
O HSVP elenca alguns cuidados que as famílias devem ter quanto ao diagnóstico precoce, com sintomas que podem acarretar em câncer infantojuvenil. São eles:
- Febre
Prolongada e persistente, de causa não identificada
- Perda de peso
Inexplicada, súbita ou prolongada, sem que haja alteração na dieta da criança ou do adolescente
- Palidez
Anemia inexplicada
- Inchaço
Aumento do volume da barriga, joelho, pescoço ou de outras partes do corpo
- Dores de cabeça
Com grande intensidade, diariamente, geralmente acompanhadas de vômito pela parte da manhã
- Alteração na visão
Reflexo esbranquiçado nos olhos
- Manchas roxas na pele
Aparecimento de hematomas sem machucados
- Sangramento
Sangramento de nariz, gengiva, sem motivo aparente
- Dores nos ossos e nas articulações
Dificuldades ao andar, o que prejudica as brincadeiras e outras atividades
- Caroços pelo corpo
Costumam aparecer no pescoço, axilas, virilhas, abdome ou nas “saboneteiras” e aumentam com o passar do tempo