As pessoas estão dormindo cada vez menos. A afirmação é do pneumologista e médico do sono em Passo Fundo, Tiago Simon. Assim como ele, especialistas da área no país são unânimes em afirmar que o sono se tornou uma questão de saúde pública.
Buscando conscientizar a população sobre os benefícios de uma noite bem dormida, uma atividade pública foi promovida na tarde de sábado (18), no Passo Fundo Shopping, marcando a Semana do Sono, organizada em todo o país pela Associação Brasileira do Sono (ABS).
Com orientações para a comunidade, médicos das áreas de pneumologia e otorrinolaringologia, fonoaudiólogas, fisioterapeutas e estudantes universitárias levaram as principais informações e ouviram relatos sobre a qualidade do sono das pessoas.
O objetivo foi orientar a população sobre aspectos, comportamento, alertas, além de estimular as pessoas a adotar um estilo de vida e sono saudáveis, melhorando sua saúde em geral.
Natanael dribla o sono entre dois empregos
Natanael Nunes, 20 anos, morador do bairro Petrópolis, trabalha durante o dia em uma loja e a noite em um bar. Como precisa conciliar dois trabalhos, consegue dormir, no máximo, quatro horas por dia. Ele busca driblar as dificuldades de dormir pouco com café e uma boa alimentação. Ele foi uma das pessoas que recebeu orientações durante a campanha da Semana do Sono.
— O médico me orientou para não mexer muito no celular de noite quando chegar em casa, tomar banho e ir dormir o mais rápido possível para ter qualidade no tempo de sono disponível.
Pandemia afetou a qualidade do sono dos brasileiros
Segundo Tiago Simon, que é coordenador da Semana do Sono 2023 em Passo Fundo, fatores como a pandemia, que alterou a qualidade do sono dos brasileiros, e a tecnologia, com o uso excessivo das telas, estão interferindo cada vez mais para uma boa noite de sono.
— Depois da pandemia, a insatisfação do brasileiro com seu sono aumentou de 44,5% para 72,7%, a qualidade e o tempo de sono diminuíram de 7,1 para 6,2 horas e apenas 1/3 da população buscou auxílio para seu problema.
Uso do celular altera a qualidade do sono
Simon afirma que a questão tecnológica interfere diretamente no sono.
— O brilho da tela de led e a faixa de luz dão a entender ao cérebro que ainda é dia e que ele não precisa secretar a melatonina, hormônio responsável por iniciar os processos do sono, o que acaba postergando o sono. Ainda tem a questão do conteúdo consumido, a interação em redes sociais, seriados, que fazem com que a pessoa fique mais tempo acordada. Só que na maioria das vezes o horário de acordar é fixo, então o horário de dormir precisa ser regrado o máximo possível.
O especialista lembra que prolongar o período de sono também melhora as performances mentais e corporais durante o dia e aprimora a experiência de sonhar, pois os estágios do sono REM (último estágio do ciclo do sono)concentram-se principalmente na parte final do sono, que geralmente é reduzida pelas urgências da vida moderna.
— O sono profundo e reparador é uma função preciosa para o nosso organismo, em todas as faixas etárias, especialmente na infância e adolescência.
Projeto de Lei sugere início das aulas às 9h da manhã
Ao falar sobre o sono na adolescência, o médico alerta sobre a questão fisiológica desta faixa etária e a necessidade de uma mudança no horário de início das aulas, algo que já conta inclusive com um Projeto de Lei no Brasil. O PL nº3.953-A, tramita na Câmara dos Deputados desde 2015, busca determinar que as aulas de educação básica, nos ensinos fundamental e médio, deverão iniciar às 9h.
— O sono do adolescente é diferente. Ele tem tendência a dormir mais tarde e acordar mais tarde, é fisiológico. Acordar cedo pode comprometer seu aprendizado. Em países como EUA e Canadá, as aulas do ensino médio começam no turno da tarde. Aqui no Brasil, no Estado do Paraná, um estudo colocado em prática com início das aulas às 8h30,comprovou que as notas melhoraram — explicou.
Sono de qualidade previne demência e impede envelhecimentos precoce
Mais do que ser reparador e representar descanso, o sono de qualidade impacta em questões como aprendizado, memória e humor, além de melhorar a capacidade de remover resíduos do cérebro, contribuindo com a função cerebral e prevenindo doenças como a demência.
Simon ressalta que além dos aspectos de melhoria na qualidade de vida, um sono regulado reduz o risco de acidentes de trabalho e de trânsito, promove a secreção de melatonina e protege o relógio circadiano natural, o que pode impedir o envelhecimento precoce.
— Assim como comer bem e se exercitar, dormir é um comportamento fundamental para o bem-estar físico, mental e social. No entanto, o sono ainda não é considerado um comportamento essencial para uma boa saúde.
Semana do Sono
A campanha foi criada em 2015 pela Associação Brasileira do Sono e tem como base o evento Dia Mundial do Sono, promovido pela World Sleep Society, que chegou na 16ª edição em 2023. A semana do sono é um evento reconhecido internacionalmente que reúne pesquisadores, profissionais de saúde e pacientes para falar sobre o sono e seu importante impacto na saúde.
GZH Passo Fundo
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