Pelo menos 49 cidades das regiões Norte e Noroeste do RS têm mais eleitores que habitantes. Em todo o Rio Grande do Sul, são 88 municípios nessa situação.
Os dados vêm de levantamentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A lista inclui municípios que chegam a ter 737 eleitores a mais habitantes, como é caso de Itati. Em Bom Progresso, são 513 eleitores a mais, enquanto Nicolau Vergueiro tem 494 pessoas que votam na cidade, mas não moram no local.
Em Alto Alegre, por exemplo, o número de eleitores e de habitantes é o mesmo, de 1.871 pessoas — o que significa que há eleitores a mais, pois o número de habitantes inclui crianças e adolescentes que não estão aptos a votar, por exemplo.
De acordo com o cientista político e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), João Ignácio Lucas, um dos principais motivos para o fenômeno é a saída dos moradores dessas cidades para outras maiores por conta de trabalho ou estudo. Em outros casos, porém, há situação de fraude eleitoral.
— Pessoas até se mudam porque tem o processo de compra de votos para favorecer o candidato, especialmente nos cargos proporcionais. Mas eu diria que isso é pequeno em vista das migrações que acontecem com a população brasileira — aponta.
Motivo de debate
Algumas pessoas que vivem nesses municípios questionam que pessoas de fora interfiram nas decisões da cidade.
— Eu tenho a impressão que isso aí não é muito legal. Muitas vezes a decisão das eleições vem de quem mora fora e vota aqui — disse o médico veterinário Adécio Koop, que mora em Mato Castelhano. A cidade de 2,6 mil habitantes tem 3 mil eleitores.
Cenário semelhante no município de Pontão, também no norte gaúcho. Na cidade são 3,3 mil habitantes e 3,4 mil eleitores. A dona de casa Brenda Eckerdt não aprova a possibilidade de o pleito ser decidido por quem não vive ali.
— A pessoa que não mora aqui não sabe como é. Eu acho que a pessoa tem que conhecer o candidato em quem vai votar — opinou.
A Justiça Eleitoral afirma que verifica possíveis irregularidades na movimentação de eleitores, mas não entende que os eleitores que não moram nessas cidades possam ter grande impacto na votação.
— Muitas vezes as pessoas preferem manter o vínculo afetivo e não fazer a transferência do título, mas esquecem que todos os aspectos da vida, como saúde pública, transporte, pavimentação e iluminação pública, que importam são os do município no qual ele está vivendo no momento — explicou o secretário judiciário do TRE-RS, Rogério de Vargas.