Por Vanderlei Farias, psicólogo e escritor
Há uma história muito antiga sobre um discípulo que interroga seu mestre sobre por que as pessoas não elogiam a beleza do sol, sendo que ele é tão grande e aparece todos os dias de forma exuberante para elas. A resposta do mestre é de que lembramos de elogiá-lo somente na sua falta, principalmente no inverno, quando ele fica escondido atrás das nuvens.
Em Passo Fundo, o pôr do sol tem surpreendido cada vez mais seus moradores e também aqueles que por aqui passam. No início, achava-se que era por causa da fumaça, mas os finais de tarde têm se repetido e chamam a atenção até mesmo dos mais desavisados.
Ele se impõe enorme e com lindos tons de vermelho. Um pôr do sol gigante tem se apresentado todos os dias e pode ser visto de diferentes lugares da cidade. As fotos dele têm se multiplicado nas redes sociais. Estamos todos reféns de sua beleza.
Embora não seja um pôr do sol como o do Guaíba, pois nos falta no horizonte a beleza de suas águas; mesmo assim, ele deixaria, com certeza, boquiabertos nossos amigos da Capital.
O número de pessoas que vem morar em Passo Fundo cresce a cada ano e agora há ainda mais um motivo para permanecer e se mudar para nossa cidade. Apaixonados pelo lugar afirmam estarmos diante da mais nova ferramenta de captação de moradores para a cidade, expandindo cada vez mais o nosso crescimento demográfico.
É fácil perceber no final da tarde, as pessoas absortas, seja em meio às suas caminhadas, passeios, no happy hourcom os amigos ou apenas saindo de uma aula ou do trabalho, diante da beleza do sol que se põe na cidade.
E, foi olhando o pôr do sol, enquanto terminava a limpeza dos túmulos, como faz todo o ano no cemitério, em respeito ao Dia de Finados, que minha mãe me olhou e disse: “a gente parece só se dar conta do valor da vida quando as pessoas não estão mais aqui. Que pena!”.
Assim como o pôr do sol nos lembra da necessidade de valorizarmos a beleza da vida em nosso planeta, também o Dia de Finados nos faz refletir sobre a nossa própria finitude e sobre aqueles que já não estão mais aqui. O tempo exige que não titubemos diante da celebração da beleza da vida.
Quando o sol se vai a gente tem certeza de que haverá pôr do sol amanhã. Talvez por estarmos acostumados, nem o valorizamos tanto. A gente, de alguma forma, acha que nós e as pessoas que nos são caras estarão aqui para sempre. Só há, porém, um jeito de eternizá-las, investindo na qualidade do tempo que temos com elas. Há uma certeza, com a qual temos que ter sabedoria para lidar, que um dia não estaremos mais aqui para admirarmos o pôr do sol. Viva o pôr do sol de Passo Fundo!
Vanderlei de Oliveira Farias é filósofo, psicólogo, escritor e docente do curso de Medicina na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).