Por Nadja Hartmann, jornalista
A denúncia envolvendo cobranças irregulares do estacionamento rotativo pago ou as reclamações dos servidores que receberam férias com atraso não são os únicos problemas do prefeito de Carazinho, Milton Schmitz. As nuvens carregadas que pairavam sobre a prefeitura na semana de comemoração de aniversário do município desabaram como uma forte tempestade nesta sexta-feira (26) com a saída da vice-prefeita Valeska Walber do MDB.
O documento de desfiliação foi entregue e já assinado pelo presidente do partido, Márcio Guarapa. Valéska é a primeira mulher vice-prefeita de Carazinho, o que foi considerado um “feito histórico” do MDB, que ainda elegeu de forma inédita uma chapa “puro-sangue” para a prefeitura em 2020. Com ampla maioria na Câmara, a administração tinha tudo para viver o “melhor dos mundos”, e consequentemente, o partido, que ainda surfava na reeleição de Márcio Biolchi para a Câmara dos Deputados. Só que não foi bem assim...
Crise I
...Desde o início do mandato, o partido não soube colher os louros de estar no comando da prefeitura, perdendo espaços para partidos aliados, como o PSB e até para o PP, que ingressou no governo após as eleições, o que gerou muitas insatisfações internas.
Aliás, como um prenúncio da crise, recentemente dois secretários (Tenente Costa, do MDB, e Estevão De Loreno, do PSB) chegaram “às vias de fato” durante uma reunião com o prefeito, o que gerou, além de um boletim de ocorrência, o pedido de exoneração de Estevão De Loreno da Secretaria de Obras.
Crise II
Ou seja, a saída da vice-prefeita do partido é a consequência mais grave de uma crise interna do MDB de Carazinho a repercutir diretamente na gestão de Milton Schmitz, que não custa lembrar, viveu situação semelhante com o seu vice-prefeito na gestão anterior, Fernando Sant´anna de Moraes, que se afastou da função por problemas de incompatibilidade com o prefeito.
No caso da atual vice-prefeita, Valéska desde o início do mandato vinha reclamando da falta de apoio do MDB diante de situações tensas que enfrentava na prefeitura, envolvendo até mesmo episódios de machismo. O quadro se agravou no momento que o partido não demonstrou apoio ao seu nome como candidata natural à sucessão de Milton Schmitz, que não pode concorrer à reeleição. Valeska afirma que continuará normalmente o seu trabalho como vice-prefeita, mas é inevitável que a sua decisão azede ainda mais a sua relação com o prefeito...
“Grandes equívocos”
Porém, não resta dúvida que quem mais sai perdendo é o MDB. Faltando menos de nove meses para as eleições, a sigla ainda não tem um nome para indicar como candidato à sucessor de Milton Schmitz. Com o desligamento da vice, perde um nome importante que possui um trabalho reconhecido junto à comunidade.
Em conversa com o presidente Márcio Guarapa, ele admitiu a esta coluna que o partido cometeu “grandes equívocos”. O principal, segundo ele, foi de não ter apoiado Valéska Walber para ser a candidata à majoritária pela sigla.
— Ela seria a candidata natural e contaria com o apoio da maioria do partido. Porém, sabíamos que não poderíamos contar com o apoio do prefeito Milton. Enfim, houve resistências que não soubemos como lidar — afirmou.
Distância
De acordo com o presidente da sigla, a fumaça branca do nome do candidato sairá até segunda-feira (29). No páreo, está o nome dele próprio que deve vir com o vereador Daniel Weber (PP) como candidato à vice, mas diante da crise interna, não se descarta que o MDB abra mão até mesmo da cabeça de chapa...
Com tudo isso acontecendo no seu partido e na sua principal base eleitoral, o deputado Márcio Biolchi encontra-se totalmente ausente e alheio. Bem diferente do deputado Luciano Azevedo (PSD), que acompanha de perto as articulações do partido para as eleições de outubro em Passo Fundo, o deputado de Carazinho faz questão de manter distância de questões locais, conforme atesta o presidente do partido.
— Márcio nunca se envolveu na construção de chapas — garantiu Guarapa.
Futuro
Quanto ao seu futuro político, Valéska afirma que tem recebido convites de vários partidos para compor a majoritária, inclusive, do PSDB, principal adversário do MDB nas últimas eleições. A princípio, a chapa da oposição viria com João Pedro Azevedo na cabeça e o ex-vereador do PDT, Anselmo Britzke, de vice, porém, uma dobradinha com a atual vice-prefeita não é descartada.
Valéska, no entanto, afirmou a esta coluna que a eleição de outubro não é a sua prioridade, e sim, manter o seu trabalho junto à comunidade, independentemente de partido.
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