A fumaça vista no céu de Passo Fundo há alguns dias pode ser prejudicial para o meio ambiente e para a saúde da população. A película de poluentes composta por elementos como dióxido de enxofre e monóxido de carbono é um reflexo de queimadas na Amazônia, além de outros focos de fogo no centro-oeste do país e na Argentina, Paraguai e Bolívia.
A situação atípica na cidade também tem sido influenciada pelas condições meteorológicas, como afirma o engenheiro ambiental Cleomar Reginatto. A temperatura elevada do ar, que está seco, incomum para o mês de setembro, favorece a movimentação da fumaça para outras regiões do país.
Reginatto afirma que a grande parcela das queimadas que estão acontecendo no norte do país não são de causas naturais, mas provocadas pelo homem.
— Existe uma cultura ainda de usar o fogo para cultivo agrícola, para limpar o terreno. O que acaba acontecendo é que o pessoal não consegue conter esse fogo e ele se espalha. Há também alguns incêndios criminosos, não sei por qual objetivo, mas acaba se espalhando numa escala bem grande — disse.
O uso do fogo para prática agrícola é proibido. As consequência das queimadas podem estar diretamente ligadas à questão do efeito climático, como explica o engenheiro ambiental.
— As florestas têm um papel importante na regulação da umidade e de absorção de dióxido de carbono, que é um gás bem importante quando falamos de aquecimento global. A queimada dessas áreas de floresta gera uma liberação enorme de carbono para a atmosfera, o que pode intensificar o efeito do aquecimento global — afirma Cleomar.
Entre os elementos presentes no ar e que podem ser inalados está um material particulado com tamanho de até 10 micrômetros, conhecido como MP10. As partículas finas provenientes das queimadas ficam suspensas no ar, sendo carregadas através da fumaça e podem causar grandes prejuízos para a saúde.
O cirurgião torácico e pneumologista Saulo Cocio Martins Filho afirma que a fuligem disposta no ar, e que contém o MP10, é respirada e depositada no alvéolo, estrutura do pulmão que realiza a troca de oxigênio. O principal sintoma do mau funcionamento do alvéolo é a falta de ar e os grandes prejudicados nessa situação são as pessoas asmáticas.
— Essa fuligem vai atuar como um agressor de maneira com que vai desenvolver uma crise de asma. Isso vai irritar a parede dos brônquios e fazer com que o asmático tenha esses sintomas de falta de ar, tosse seca e chiado no peito — explica o médico.
O excesso de monóxido de carbono e de óxido de nitrogênio na atmosfera também pode afetar a oxigenação pulmonar, como afirma o pneumologista. Segundo ele, o pulmão é feito apenas para uma atividade: tirar o oxigênio do ar inalado e colocar dentro da corrente sanguínea.
— Esse oxigênio vai ser levado para todo o organismo. Todas as nossas células precisam de oxigênio para ficar ativas. No momento em que você tem um ambiente rico em outras substâncias, como monóxido de carbono e óxido de nitrogênio, isso vai fazer com que essa oxigenação não ocorra de uma maneira adequada — disse.
Ações preventivas
Os cuidados com a saúde podem ser básicos, mas importantes para prevenir futuros problemas de pulmão. O uso de máscara ainda não se faz completamente necessário segundo o pneumologista, mas máscaras com filtro podem ser uma boa opção por reterem as partículas dispostas no ar, impedindo que sigam para o pulmão.
Além disso, uma boa hidratação e o uso de umidificadores dentro de casa também auxiliam na manutenção da saúde. Porém, há quem se engane que pode trocar o aparelho pelo ar-condicionado.
— Dificilmente temos um controle do ar-condicionado e da limpeza do filtro. É preferível usar o vapor de água. Pode pegar uma bacia, esquentar a água e deixar aquele vapor no ambiente. É muito mais saudável que o ar-condicionado — orienta Saulo.