Há seis anos, Mara Gisele Pereira lidera o projeto voluntário Fios Encantados em Jundiaí, no interior de São Paulo. Através da confecção de perucas e toucas de lã personalizadas para crianças em tratamento oncológico, ela encanta salas de hospitais quando realiza as entregas por todo o país.
Na tarde desta terça-feira (9), foi a vez das crianças do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Passo Fundo, receberem 100 peças das obras de arte produzidas por 120 voluntárias do projeto. Lenços e turbantes também foram entregues para a instituição presentear os pacientes.
Com 14,8 mil seguidores nas redes sociais, o movimento chegou ao conhecimento de Nadiesca Vargas, mãe da Luiza, 3 anos, que está em tratamento oncológico no hospital desde dezembro de 2023. Em uma conversa com Mara, Nadiesca recebeu várias toucas e lenços em casa para a filha e a mãe, que também luta contra a doença.
— A touca da Luiza fez sucesso aqui no posto (oncológico). Eu falava sobre o projeto para todo mundo porque é um ato de amor. Minha mãe também recebeu lenços. As toucas são bem lúdicas e aquilo se torna uma diversão. Tem muitas toucas com fios compridos, para imitar o cabelo. É uma forma de acolher a criança em um momento que também não é fácil para ela — disse a conselheira tutelar, que é de Palmeira das Missões, município a 130 quilômetros de Passo Fundo.
Entre várias opções personalizadas, muitas são inspiradas em personagens heroicos como Capitão América e Hulk. Além destes, alguns modelos de toucas também lembram princesas do cinema como Fiona, do filme Shrek, e Bela, do clássico da Disney A Bela e a Fera. A escolha da Luiza foi uma touca de unicórnio.
Foi através do perfil da mãe da Luiza que a Mauerlen conheceu as toucas de crochê e decidiu entrar em contato com o projeto para receber algumas para a sua filha Clara, 7 anos, que também está em tratamento. Com uma mudança de rota, Mara trocou a ida ao Tocantins, onde faria uma doação, para enfrentar o frio congelante do Rio Grande do Sul.
— Eu encontrei vídeos da Luiza nas redes sociais e vi que ela tinha recebido uma touca do projeto Fios Encantados. Entrei em contato para receber para a minha filha também. Quem me retornou foi a Mara, dizendo que queria vir para cá fazer a entrega pessoalmente — conta Mauerlen Vieira, responsável pela vinda da idealizadora do projeto a Passo Fundo.
Inicialmente sem saber fazer crochê, Mara deu vida à ideia e relembra que se sentiu muito apreensiva no começo. Hoje, com o projeto espalhado em diversos estados do país, ela conta que não imaginava que a ação ganharia tamanha proporção. Essa já é a segunda vez que visita o Rio Grande do Sul.
Com a vontade de fazer um pouco mais além das atividades que já realizava nos hospitais de São Paulo, o objetivo da coordenadora era ter um contato mais próximo com os pacientes oncológicos e seus familiares.
— Eu não gosto de simplesmente mandar as toucas. Eu quero estar presente. Hoje foi um exemplo disso. Eu tenho vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir que todos nós podemos fazer a diferença na vida do outro de alguma forma. Sem nada de ego, sem nada de inveja. Nós estamos aqui na terra só para servir. O que me motiva é ver a alegria tanto das crianças quantos dos familiares. Isso faz com que eu queira continuar nessa missão — disse Pereira que já raspou o cabelo duas vezes em solidariedade ao projeto.
Recorde solidário
Criado em 2018, o projeto Fios Encantados já passou por 24 estados do Brasil. O feito impressionante foi registrado pelo RankBrasil e se tornou recorde pelo "Maior número de Doações de Toucas e Perucas em Maior Número de Estados do Brasil". O reconhecimento aconteceu em 14 de maio deste ano.
Mais de 30 mil peças já foram confeccionadas pelo grupo voluntário. Os estados que ainda faltam receber o projeto são Tocantins, Amazonas e Roraima. Com as toucas de crochê espalhadas pelo país, o próximo passo será internacional.
— Em breve irei para o Tocantins realizar uma doação. Para o próximo ano a ideia é fazer uma ação no México, em Guadalajara — conta Mara.