Em meio ao desastre climático vivido pelo RS, água potável se tornou um bem valioso entre moradores das cidades mais afetadas pela chuva. Muçum, no Vale do Taquari, é um dos municípios com estoque crítico de insumos e a situação de calamidade motivou uma iniciativa para purificar a água utilizada no Hospital Beneficente Nossa Senhora Aparecida.
O sistema, criado por um grupo de engenheiros da startup Reseta, incubada no Parque da Universidade de Passo Fundo (UPF), transforma a água turva em cristalina ao filtrar até 1 mil litros de água por hora e reter impurezas, vírus e bactérias (assista acima). A iniciativa está fazendo a diferença no poço artesiano do hospital do município de 4,6 mil habitantes, afetado pela terceira enchente sucessiva.
— O poço artesiano do hospital está com a água turva, então só pode ser utilizada para descarga e alguns tipos de limpeza, não para consumo dos pacientes. Nosso processo faz com que a água passe pelo filtro antes de chegar à caixa d'água central da unidade — destaca Augusto Hemkemeier, um dos idealizadores do projeto.
O equipamento usa uma membrana específica que atua como filtro da água. A estrutura, que foi montada no hospital de Muçum, funciona durante 20h por dia. Muçum é o primeiro local a receber a instalação e, agora, o objetivo é viabilizar a logística para encaminhar outro sistema para a região de Porto Alegre, dessa vez com maior capacidade de abastecimento.
— No caso de Porto Alegre, trabalhamos numa faixa de 1 mil a 2 mil litros por hora. O sistema varia muito pela qualidade da água que temos e da a vazão que queremos. Depende também do nível de complexidade da água, se está muito suja ou contaminada — conta.
Custo depende do nível de turbidez da água
A startup também desenvolveu um terceiro equipamento com menor capacidade de filtragem, de 50 a 70 litros por hora, capaz de auxiliar comunidades isoladas pela enchente. Além disso, o sistema pode ser inserido em abrigos para coletar e purificar a água da chuva.
Além de Muçum, os demais equipamentos já saíram do papel e foram viabilizados pela startup. Agora, o desafio é a logística para transporte e instalação nas demais cidades afetadas pela chuva no RS. O custo de operacionalização fica entre R$ 30 mil e R$ 90 mil, uma vez que o patamar de impureza de água influencia no sistema de filtragem por membrana, utilizado pelos engenheiros.
No caso de Muçum, porém, a tecnologia foi disponibilizada de forma gratuita em meio à crise. A startup, que conta com a operação de cinco pessoas, atua em parceria com uma rede de construção do município de Coxilha, o que facilita o acesso aos materiais necessários, disse Hemkemeier.
Conforme última atualização da Defesa Civil, são 100 mortes confirmadas no RS em decorrência da chuva. São 128 desaparecidos, 417 municípios afetados e pelo menos 1,4 milhão de pessoas afetadas. Confira a cobertura completa em GZH.