Enfrentando a terceira inundação em sete meses, a prefeitura de Muçum, no Vale do Taquari, decretou Estado de Calamidade Pública nesta sexta-feira (3). A cidade está com estoques críticos de alimentos e de água, além de estar praticamente isolada do restante do Estado.
A situação é caótica, mesmo com o recuo das águas do Rio Taquari desde a noite de quinta-feira. Deslizamentos de terra e quedas de barreira bloqueiam totalmente a passagem na ERS-129, principal rodovia para acessar a cidade e também estradas do interior, desde as primeiras horas do dia 1º, deixando a comunidade ilhada.
Uma equipe da RBS TV conseguiu chegar a Muçum somente nesta sexta, após alcançar o município vizinho de Vespasiano Correa por um acesso paralelo. De lá, seguiu por 10 quilômetros por uma estrada de chão, e, depois, a pé pela estrada interditada. No caminho, após duas barreiras, foi possível conseguir transporte até a cidade.
Lá, os moradores contavam apenas com um ponto de energia elétrica e internet, no hospital municipal. Foi por ali que as poucas informações sobre o que acontece no Rio Grande do Sul chegaram à população de Muçum pelos últimos dias, muitas vezes gerando apreensão. O morador Eduardo Siqueira relembrou momentos de pânico quando ele e outras milhares de pessoas ouviram a notícia do rompimento da Barragem 14 de julho.
— Passou a sirene, era filho, cachorro, tudo entrando no carro, botando, atirando, indo pra cima, e era gente voltando, se batendo, cara, muito, muito, muito, era idoso, criança, cachorro, sabe, cara, não tem explicação, é filme de terror.
Gritos de socorro
Na escuridão da noite, sem energia elétrica, restava aos moradores ouvir o barulho do Rio Taquari e os gritos de socorro que só aumentavam. Assim como na inundação de setembro, o nível da água superou os 26 metros, todavia, desta vez, deslizamentos de terra também aconteceram. Os casos foram registrados nas estradas, morros e também na cidade.
Na noite de quarta-feira, a proprietária do único mercado que não havia sido atingido pela enchente, Fabiele Cetolin, conta que acordou com gritos dos vizinhos. A informação era de que a encosta do morro estava cedendo.
— A noite que a gente passou foi a pior até hoje na minha vida, eu não quero mais repetir isso. Porque você não tem para onde correr — recordou.
Nesta sexta-feira a chuva parou durante a manhã e à tarde. O rio, que já baixava desde o dia anterior, aos poucos foi deixando as pessoas voltarem para casa e ver o que restou. Alguns moradores de áreas mais baixas, contudo, ainda precisarão esperar. Uma delas, a aposentada Ana Toriani conta que havia retornado para casa há pouco mais de um mês, depois de ser atingida pela inundação de setembro.
— Não conseguimos tirar nada, nós dois sozinhos. Só tirei um pouco de roupa, o resto ficou lá e diz que tá tudo virado.
Desabastecimento
Também há desabastecimento em Muçum. Sem geradores, não é possível bombear água para população. Além disso, os estoques de comida estão em níveis críticos, segundo o prefeito Mateus Trojan.
— A quantidade, nesse momento, é para um dia. Então, a ajuda realmente precisa começar a chegar hoje — suplicou.
Até o fim da tarde, equipes da cidade e de Vespasiano Correa conseguiram desobstruir a estrada da linha São Luiz. Com isso, alguns geradores e outros itens conseguiram ser levados até a comunidade às margens do Rio Taquari.