A sensação para a aposentada Juvelina Santi é de déjà vu: há exatos seis meses, ela viu o município Barra do Rio Azul, onde vive desde pequena, ser destruído pela forte chuva que causou o transbordamento dos rios Paloma e Azul, que cercam a cidade. A situação se repetiu na quinta-feira (2), quando o município voltou a ficar embaixo d'água em meio à chuva que deixou o RS em estado de calamidade pública.
— Pela segunda vez, seis meses hoje, quando já havíamos reconstruído tudo, acontece isso. E dessa vez, água veio mais forte. Na nossa casa, alcançou os dois pisos, estragou tudo. A gente não sabe por onde começar — relatou.
Barra do Rio Azul é a cidade mais afetada pela chuva no norte gaúcho. Em toda a região, que cobre 76 municípios, havia 115 desabrigados e 630 desalojados até o fim da noite de quinta-feira (2), conforme a Defesa Civil regional. No RS, são 38 mortes até essa sexta-feira (3) e problemas em mais de cem cidades. As principais regiões atingidas são a Central, Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari, Metropolitana e Serra.
De acordo com o prefeito, Marcelo Arruda, a situação atual de Barra do Rio Azul é pior do que a do ano passado. O município de 1,7 mil habitantes tem pelo menos 250 desalojados, número maior que o registrado na enchente de novembro, quando 179 pessoas precisaram deixar suas casas em meio à chuva que arrastou casas e até uma viatura da Brigada Militar.
A cidade registra a situação mais grave do norte gaúcho. No momento, os desalojados têm abrigo em casas de familiares, no ginásio e no salão paroquial da cidade. Entre a manhã e a noite de quinta-feira (2) foram registrados cerca de 300 milímetros de chuva na cidade.
— A gente estava preparado, mas dessa vez a água subiu além do limite. Mesmo erguendo tudo, ainda assim foi atingido. O que a gente pensa, ao menos, é que ninguém morreu e podemos reconstruir. Com a ajuda de todos, vamos recomeçar, se Deus quiser — conta Roselei Fátima Vanso, proprietária de um mercado localizado na Rua das Rosas.
No estabelecimento, que foi tomado pelo barro, vizinhos e parentes auxiliam na limpeza e tentam recuperar alimentos que se perderam em meio à lama. A chuva deu uma trégua na manhã desta sexta-feira (3), mas a previsão é de precipitação volumosa, que pode chegar a 100mm até sábado (4).
— Aos poucos vamos nos ajeitando — completou Juvelina, antes de decidir por onde começar a buscar o que restou de sua casa.