A tarde desta quarta-feira (3) foi de limpeza, reconstrução e retomada parcial das atividades em Passo Fundo, após a chuva de 152,8 milímetros que alagou casas e ruas da cidade na noite de terça (3) e madrugada de quarta-feira (4). O volume representa 63% da média prevista para o mês de outubro, de 239 mm.
O posto de Estratégia de Saúde da Família 1º Centenário, do bairro Vera Cruz, precisou suspender os atendimentos depois que a chuva infiltrou pelo prédio através do forro do teto e do chão, alagando todas as salas. Entre os prejuízos está uma impressora, que estragou no contato com a água. O Ambulatório de Especialidades, no centro, também interrompeu as atividades. Depois da limpeza, os atendimentos foram retomados durante a tarde.
O trabalho se concentrou nas regiões mais afetadas da cidade, com reparos pontuais na Vila Luiza, São Cristóvão, Victor Issler e Berthier. Uma ponte também precisou ser interditada por desmoronamento, e foi consertada.
Água que escoou da cidade acumulou na Rua Miguel Vargas
Ao menos cinco casas na Rua Miguel Vargas, na Vila Berthier, foram atingidas pela água que tomou as vias pela baixa capacidade de escoamento. No local, o problema se repete desde 2021, quando a primeira grande chuva ultrapassou as tubulações e tomou as residências.
Na época, a professora Simone Diel Guedes viu a água atingir 1,2 metro de altura nas paredes da casa. Nesta noite, chegou a 92 centímetros.
— É um transtorno toda vez que chove, nunca dormimos direito. Nessa noite a rua parecia um rio. A gente não sabe mais o que fazer, agora estragou o carro, geladeira, freezer e máquina de lavar. São gastos que a gente não espera — disse.
Na tarde desta quarta os moradores trancaram a rua, em busca de reparos. Uma obra está em andamento no local, que deve triplicar a capacidade de evasão da água.
— Nossa indignação maior é com o tempo de execução da obra, porque faz um ano e meio que está assim. Por enquanto a gente limpa o bueiro, desentope e cuida — relata o morador Bernardo Scotti, funcionário público.
Conforme o secretário de obras, Rubens Astolfi, as bocas de lobo existentes são insuficientes para drenar a água que desce da Rua Morom e Avenida Brasil. O reparo corre dentro do prazo estipulado e deve ser finalizado até o fim deste ano.
Muro de casa foi levado pela água
Na Rua Quinze de Novembro, na Vila Shell, o muro de uma casa foi levado pela força da água. Os moradores temem que a residência seja consumida por um córrego que passa na lateral do imóvel. Conforme o relato da proprietária, Nilce Nervo, a água do córrego subiu mais de 4 metros e passou por cima do muro, invadindo a residência.
— Além da água que vinha do córrego, entrava água pelo portão. Não deu tempo de fazermos nada. Foi tudo muito rápido. Quando pensamos em erguer as coisas, tivemos que sair, porque a água não parava de subir. Nos abrigamos na casa de familiares para evitar o pior. Dentro de casa, perdi tudo.
Nelci conta que a água no interior do imóvel chegou na altura da cintura. De acordo com dona de casa, o muro cedeu quando a água começou a baixar, por volta de meia-noite.
— Nesse instante eu me desesperei. Pensei que minha casa ia ser arrastada junto. A gente construiu este muro há 20 anos, com muito suor e dedicação, e não temos como fazer outro. Quase que a água ainda leva o carro que estava na garagem. Ainda bem que meu sobrinho veio e tirarmos o veículo de onde estava estacionado.
Uma equipe da prefeitura compareceu no local pela manhã e avaliou a situação. Conforme a moradora, os servidores disseram que voltariam à tarde para retirar o entulho.
— Mas e a minha casa como que fica? O muro nos protegia da água. Eu não sei o que fazer nem pensar, estou sem força. A previsão é de mais chuva, e se a prefeitura não fizer algo por mim, a água vai levar minha casa. Eu estou com muito medo que esse chão desmorone e eu perca a única coisa que eu tenho nesse mundo — desabafou.
Além do muro, parte do que restou da estrutura e que comporta a garagem do imóvel, está prestes a ceder, o que agrava ainda mais a situação da propriedade.
Ponte interditada na rua Parobé
O alto nível do rio Passo Fundo causou a interdição da ponte entre as ruas Parobé e Almirante Barroso, no Bairro Entre Rios. À tarde, a secretaria de obras realizou a manutenção do local, fazendo um enrocamento com pedra, na cabeceira da ponte. O trânsito deve ser liberado até o fim da tarde.