Moradores da Rua Leopoldo Vila Nova, no bairro Santa Maria, contabilizam os prejuízos dos alagamentos ocasionados pela chuva que atingiu Passo Fundo entre a noite de terça (3) e a madrugada desta quarta-feira (4).
Há exatamente um mês, os moradores da localidade perderam tudo com a enchente que prejudicou boa parte do município e deixou 131 desalojados. Segundo o relato da comunidade, a água começou a entrar nas casas por volta das 0h30min e chegou a um metro de altura. O aposentado César Rodrigues, 58 anos, conta que, na sua casa, a água chegou na altura da cintura. Não deu para salvar nada.
— Eu só sinto tristeza. Há um mês eu perdi tudo e hoje de novo. Não deu pra salvar nada. O que eu faço agora? Comprei essa mesa recentemente, e hoje eu perdi. Ainda estou pagando. Eu não sei onde vou tirar força para seguir em frente. A gente batalha todo dia para ter as coisas e perde tudo em questão de segundos. O pior de tudo é que ninguém toma nenhuma providência — desabafou.
O barbeiro João Paulo do Nascimento estava dormindo quando escutou o barulho da água invadindo sua casa imóvel.
— A água veio muito forte. Só deu tempo de erguer a geladeira e a máquina de lavar, que ainda estamos pagando, pegar as minhas três filhas e ir para a casa do meu sogro.
Depois que a família foi atingida pela chuva no começo de setembro, Nascimento construiu uma contenção de tijolos de 30 centímetros. Dessa vez, porém, a barreira não foi suficiente para impedir que a água entrasse no imóvel e no espaço que usa como barbearia.
— Além de perder tudo, de novo, dentro de casa, agora perdi minhas ferramentas de trabalho. Eu não sei mais o que fazer, sinceramente — lamenta.
"Duas horas de terror"
Quando viu a água invadir a casa da mãe, William Lara Silva, 27 anos, começou a fazer buracos no muro. O objetivo, segundo ele, era possibilitar que a água vazasse para o outro lado e, assim, não danificasse ainda mais a residência.
— Foram duas horas de terror. E a água subindo cada vez mais. Começamos a fazer furos no muro para ver se a água parava de subir — lembra.
A mãe dele, Angelita Almeida Lara, conta que conseguiu reaproveitar a maioria dos móveis no início de setembro, quando a rua foi afetada pelo temporal pela primeira vez. Dessa vez, porém, vai ser difícil recuperar alguma coisa.
— A água subiu quase na altura do joelho. Pegou geladeira, fogão, invadiu os quartos e molhou os colchões, cobertas, tudo. As nossas camas foram todas perdidas na outra enchente, meu filho estava dormindo em um colchão no chão. E agora, como faremos?
Moradores trancam rua em protesto
No início da manhã desta quarta-feira, os moradores da Rua Leopoldo Vila Nova trancaram a via em dois pontos. O objetivo é chamar a atenção das autoridades municipais para a situação das famílias no local.
Os moradores mais antigos da região comentam que a situação começou a ficar problemática na rua há cinco anos, depois que um condomínio residencial foi construído a poucas quadras dali. Eles relatam que a água que sai do loteamento escoe para a rua, que não consegue comportar tamanha quantidade de água.
— Nossa rua não tem bueiro. A água não escorre para lugar nenhum e como consequência entra nas casas. Toda chuva mais forte é a mesma situação. A gente só pede que algo seja feito para que isso não volte mais a acontecer e a gente pare de sofrer — comenta Fabiano Roque, que mora no local há 40 anos.
A prefeitura de Passo Fundo afirmou em nota que trabalha para atender os atingidos e disponibilizou dois locais para abrigar os desalojados. Em caso de necessidade, a orientação é buscar a Defesa Civil pelos telefones 3311-1195 ou 193.
Chuva em Passo Fundo
Nas últimas 24 horas, choveu 152,8 milímetros, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O volume representa 63% da média prevista para o mês de outubro, que é de 239 milímetros.
Os bairros que registraram maiores problemas foram Entre Rios, Cruzeiro, Victor Issler,Vila Luiza, São Cristóvão e Santa Maria.