Um mês após a noite que deixou 131 pessoas desalojadas em Passo Fundo, no norte do Estado, doações pontuais ainda precisam ser destinadas ao bairro Entre Rios, o mais afetado pela enchente na cidade. A região foi tomada pela água do Rio Passo Fundo após 328 milímetros de chuva acumulados nos quatro primeiros dias de setembro.
Hoje, as ruas com lama já foram cobertas com pedras e asfalto, permitindo a volta à normalidade, e poucas casas ainda têm lonas nos telhados. Nos fundos da Rua Reinaldo Fasolo, próximo ao Rio Passo Fundo, a aposentada Jussara Sales cuidava, nesta terça-feira (3), das flores plantadas após a enxurrada quase tudo que havia ali.
A casa dela foi uma das mais afetadas no bairro e precisou ter todo o assoalho de madeira trocado em razão do tempo que ficou em contato com a água. Aos 70 anos, ela precisou sair de casa naquele 4 de setembro, e passar duas noites em abrigos cedidos pela prefeitura. Agora, após se reestabelecer, ainda faltam o reparo no piso do banheiro e um guarda-roupa novo.
— Segunda-feira (2) eu quase chorei procurando as roupas do meu neto, porque a gente está guardando tudo em sacolas pretas e eu não conseguia achar o que precisava. Agora penso em montar umas prateleiras, para ao menos ter onde deixar nesse meio tempo, enquanto não consigo um guarda-roupa — relata.
A cerca de 80 metros dali, Edson Fochi ainda aguarda a chegada de telhas para terminar de cobrir a casa. Parcialmente destelhada e tomada pela água há um mês, a residência ainda tem espaços abertos no teto que permitem a entrada de chuva.
— A prefeitura nos prometeu, mas ainda não veio nos trazer o restante do telhado. Mas de resto, batalhamos e conseguimos, ganhamos um pouco de família e fomos atrás — relata.
Com exceção do sofá e da televisão, erguidos a cerca de dois metros do chão, tudo foi perdido. A família precisou se desfazer de móveis, roupas e alimentos. Desempregado após a enchente, Fochi pensa em recomeçar a vida em outra cidade. As memórias daquele dia ainda estão presentes para ele:
— Foi horrível ver tudo que a gente construiu, ou que faltava muito pouco para terminar de pagar, ser levado. Além da casa, ainda ajudamos a limpar a rua e desentupir bueiros. O pessoal aqui se uniu muito.
Ele e a esposa estavam em casa no momento em que a água começou a tomar a residência. Com os filhos no colo, o casal deixou a casa por volta das 4h, quando a água alcançava o primeiro degrau que dá acesso à porta principal. Quando retornaram, no dia seguinte, os cômodos estavam revirados, com os móveis espalhados pela casa.
Medidas de curto e longo prazo
Para conter emergencialmente os danos foi necessário um trabalho em conjunto entre prefeitura, Defesa Civil e a comunidade. Dos 131 desalojados, apenas nove procuraram abrigo nos locais cedidos e organizados pelo governo municipal. Os demais, se acomodaram em lares de familiares e retornaram para suas casas nos três dias seguintes à enchente.
Entre os prejuízos, a Defesa Civil municipal contabilizou 25 árvores caídas, 10 vias interditadas por conta da água, dois cruzamentos de semáforo virado pelo vento, 15 buracos sinalizados e 10 estradas do interior destruídas.
Entre as ações a curto prazo, foram distribuídos mais de 5 mil metros quadrados de lona e desobstruídas mais de 50 bocas de lobo. A prefeitura trabalha para fazer a limpeza dos rios da cidade.
— Estamos trabalhando em conjunto com as secretarias de Obras e de Meio Ambiente para conseguirmos licença ambiental para entrar com máquinas nos rios. Será necessário limpar pois muita coisa foi levada pela água — explica o coordenador da Defesa Civil de Passo Fundo, Jair Maffi.
Um estudo de micro e macrodrenagem também está sendo projeto pela Secretaria de Obras para medidas que possam evitar novas enchentes e alagamentos.
Quanto às doações, o coordenador informou que seguem sendo repassados materiais de construção civil pela Secretaria de Habitação, assim como roupas, alimentos e móveis pela Secretaria de Assistência Social. As entregas são realizadas conforme chegam os itens.