Na segunda-feira (4), após finalizar a primeira ordenha de leite do dia, a família da produtora rural Marinês Motter Trevizan teve que sair as pressas da propriedade localizada no interior de Casca, no norte do Estado. A água invadiu o galpão de ordenha e o porão da casa da família, chegando a cerca de nove metros acima do normal. Todo o maquinário foi perdido, e a família tenta reconstruir o que restou.
Ao relembrar o momento em que a lama começou a tomar conta do local, Marinês diz que a família até tentou levantar móveis e levar alguns aparelhos, mas, como saíram nadando, não conseguiram salvar nada além de si próprios e os animais. Das mais de cem vacas, 60 estavam dentro da oficina e acabaram machucadas.
— Saímos nadando e ainda fomos tentando ajudar as vacas, que iam ficando presas nas coisas. Mas tudo na casa de ordenha se perdeu, os aparelhos, refrigerador de leite, nosso trator, medicamentos e toda a parte elétrica. Tentamos ir levantando tudo, mas chegou num ponto que não tinha mais o que fazer — relembra.
A família conseguiu retornar ao local ao meio-dia de terça (5), para ordenhar as vacas e dar comida para alguns porcos. Da produção de leite, que era de 1,8 mil litros diários, caiu para 600 litros. Apenas uma vaca morreu. Agora, a família se organiza na limpeza da propriedade. O prejuízo ainda não foi contabilizado.
— Não sabemos se vamos conseguir nos recuperar ou nos levantar dessa. Estamos bobos, nem sabemos por onde começar. Tudo é tão caro, a gente nem tem noção. Perdemos muito mesmo — relata.
Prejuízos na região
Conforme a Emater-RS, ainda é cedo para mensurar os danos. As condições climáticas impedem uma avaliação precisa do impacto na produtividade.
— Há muitas pessoas para serem atendidas e socorridas e essa é a prioridade. Só depois vamos contabilizar as perdas na agricultura e na pecuária, já que muitos rebanhos também estão sofrendo com os alagamentos provocados pelas enxurradas — avalia o diretor técnico da Emater-RS, Claudinei Baldissera.
Dados publicados pela instituição na quarta-feira (6) já traziam problemas decorrentes da chuva do dia 1º de setembro. Destacam-se danos nas culturas de aveia branca e de milho, atraso no plantio de arroz e problemas nas pastagens da bovinocultura de leite.
Na aveia branca, com área de 365 mil hectares de cultivo, as precipitações do início do mês causaram queda das plantas em fase de formação e de enchimento de grãos, provocada pela água acumulada nas folhas.
Em Ijuí, no noroeste do Estado, quedas das plantas haviam sido registradas nas lavouras de cevada, mas o potencial produtivo ainda era avaliado como positivo.
Nas lavouras de milho, havia pequenas erosões no solo, causando escoamento superficial e formação de sulcos, que transportaram fertilizantes para áreas mais baixas, incluindo rios.