Um grupo de pais de alunos do campus Sertão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), no norte gaúcho, se reuniram para reivindicar melhorias na unidade. Através de um abaixo-assinado, eles buscam o apoio da comunidade para chamar a atenção por melhorias estruturais e no quadro de servidores.
Até o início da tarde desta segunda-feira (2), o documento conta com 473 assinaturas. Entre as demandas está a revisão da portaria nº 713/2021 do Ministério da Educação (MEC), que prevê a unidade como um campus agrícola 90/70 (90 professores e 70 técnicos). A intenção é transformar o local para o modelo 120/90.
— Essa portaria precisa ser alterada, não temos servidores suficientes. Não podemos continuar desse jeito ou iremos colapsar — afirma o coordenador do curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio, Odair José Spenthof, que foi diretor da unidade de 2016 a fevereiro de 2024.
Hoje o IF de Sertão conta com 1,2 mil estudantes. Por causa da falta de profissionais para atender a instituição, neste ano foram oferecidas 40 vagas a menos para o curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio, que abriu inscrições para 100 novos alunos.
Dentre as cinco reivindicações (confira a lista abaixo), o movimento também busca por melhorias na residência estudantil. Segundo Spenthof, o campus Sertão é o único do IFRS a fornecer moradia para estudantes de mais de 130 municípios. Ao todo, 244 alunos (85 meninas e 159 meninos) utilizam as dependências da instituição de segunda a sexta-feira.
— Sem o internato nós fechamos. Não tem como o estudante se deslocar todo o dia para lá — disse o coordenador.
O abaixo-assinado (disponível neste link) deve seguir recebendo assinaturas até o dia 20 de dezembro. Conforme o professor, o reitor do IFRS, Júlio Xandro Heck, deve realizar uma visita no campus de Sertão em janeiro para avaliar a situação do local.
Pais e estudantes envolvidos na causa
A aluna do 2º ano do Técnico em Agropecuária, Eduarda Machado Lima, é uma das 85 meninas que passam a semana na residência estudantil do IFRS em Sertão. Entre as reclamações estão problemas na rede hidráulica e elétrica, pisos ocos, lajotas soltas e falta de vidros em janelas.
— A residência, principalmente, facilita e nossa carreira estudantil e ela precisa melhorada assim como outros pontos da instituição que estão em depredação também — afirmou.
Segundo ela, há problemas no funcionamento de materiais utilizados nas aulas, como projetores.
— Muitas vezes não conseguimos ter as aulas da forma como os professores planejam e isso acaba nos prejudicando bastante. Também faltam funcionários nas áreas de limpeza e manutenção — completou a estudante.
Dianamara Perera Pagno, mãe da aluna do 1º ano do Técnico em Agropecuária, Larissa Perera Pagno, o sentimento é de tristeza pela situação. Moradora de Tapejara, ela conta que já buscou a filha diversas vezes durante a semana por falta de profissionais da saúde no local quando Larissa precisou de atendimento.
— Nós ainda moramos perto, mas pensa outros alunos que moram a horas de distância? Nós temos que começar a ver que é o futuro dos nossos filhos, é o futuro de uma geração que pode ser modificada — afirma.
Quais as reivindicações do abaixo-assinado
- Revisão imediata da portaria nº 713/2021 do MEC: para dimensionar o Campus como “Campus Agrícola 120/90”, o que já vem sendo solicitado desde 2016.
- Vagas para nomear servidores que atendam à Residência Estudantil, como psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e assistentes de alunos
- Função Gratificada (FG) adequada para a Coordenação da Residência Estudantil
- Retomada das obras do prédio da assistência estudantil/novo ambulatório, paradas desde 2022.
- Recursos para ampliação e adequação da Residência Estudantil.
O que diz o IFRS
Em nota, o Instituto afirma que o corte no orçamento que permite o custeio das atividades e novos investimentos no local iniciou em 2016.
A instituição reitera que tem ciência da mobilização dos pais, familiares e estudantes e que integrantes da equipe diretiva já estiveram reunidos com esse grupo para encontrar as melhores soluções diante das limitações. Confira a nota na íntegra abaixo.
"O IFRS - Campus Sertão enfrenta desafios devido à impossibilidade de ampliar seu quadro de pessoal. Desde a publicação da Portaria n° 713/2021 do Ministério da Educação (MEC), que manteve o teor da Portaria n° 246/2016, o dimensionamento do quadro de servidores do Campus ficou limitado, dificultando o atendimento das crescentes demandas. Além disso, desde 2016, a Instituição sofreu cortes sistemáticos no seu orçamento, reduzindo recursos para investimentos e custeio.
Dessa forma, tornou-se necessário ajustar o número de vagas oferecidas para novos ingressos nos cursos do Campus. No processo seletivo atual, reduzimos de 140 para 100 o número de vagas no curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio.
Esses ajustes têm como objetivo garantir atendimento de excelência aos estudantes, preservando os padrões de qualidade que são pilares de nossa atuação.
A gestão do Campus Sertão tem ciência da mobilização de pais, familiares e estudantes, mantendo diálogo permanente com a comunidade acadêmica. Integrantes da equipe diretiva já estiveram reunidos com esse grupo, ocasião em que foram apresentados os esforços realizados pela gestão anterior e pela atual para buscar alternativas diante dessas limitações.
Ambas as gestões atuaram dentro das possibilidades institucionais. Esgotadas tais possibilidades, as próprias famílias decidiram criar um movimento popular com o objetivo de sensibilizar a comunidade, os dirigentes e os representantes políticos, visando garantir apoio para o crescimento e o pleno atendimento do Campus.
A Direção-Geral do IFRS - Campus Sertão reafirma o compromisso de, junto à comunidade, buscar soluções que possibilitem a ampliação das condições de atendimento no futuro, sempre alinhadas aos valores da educação pública federal."