A implosão da estrutura da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) de Passo Fundo, no norte gaúcho, deve acontecer em menos de 20 dias. A informação é de um dos empresários que compraram a área, Roberto Andreetta, da New House Incorporações.
Segundo ele, há apenas duas certezas para o local até o momento: a implosão e a construção de um centro comercial. Os detalhes, contudo, ainda precisam ser definidos.
A área de 29.515m² pertenceu à Cesa, que construiu os silos no local em 1952 e desativou as estruturas no início dos anos 2000. O espaço foi comprado em leilão em outubro de 2021 por R$ 23,3 milhões pelos empresários Roberto Andreeta e Pedro Brair, da Brair Empreendimentos Imobiliários.
Agora, os silos devem ser implodidos para dar espaço a novos negócios.
Segundo Andreetta, o processo depende da Defesa Civil e de vários protocolos, como impacto de vizinhança e outros documentos. No dia da implosão, por exemplo, os arredores devem ser evacuados e não poderá haver trânsito na Avenida Brasil no trecho do bairro Petrópolis.
— Então estamos nesse processo, que deve durar um tempinho ainda. Mas creio que a implosão acontecerá dentro dos próximos 20 dias — informou Andreetta.
No local, o plano é erguer um centro comercial, adiantou o empresário. Porém, no momento, os parceiros ainda não estão 100% definidos.
— Estamos em tratativas. Neste momento não temos nenhum contrato acertado, mas o que posso confirmar é que esse será um dos maiores centros comerciais da Região Norte do Estado. Estamos trabalhando com esse objetivo — finalizou o empresário.
O que se sabe sobre a implosão
Conforme Andreetta, o plano inicial era preservar a estrutura dos silos, que conta com altura equivalente a um prédio de mais de 12 andares e subsolo. No entanto, três laudos técnicos de empresas diferentes apontaram que a estrutura estava comprometida.
Dessa forma, as empresas Hexa Engenharia de Explosivos, de Chapecó (SC), Fermac Detonações e Terraplenagem, de Paraí (RS), e Pedra Branca Escavações, de Curitiba (PR), começaram os trabalhos de demolição no local em 15 de julho.
Primeiro, os engenheiros realizaram um estudo, com mapeamento de pilares e vigas. Em seguida, cerca de 10 funcionários começaram a perfurar os pilares, onde depois serão colocadas as dinamites.
A estimativa é que serão necessários de 90 a 100 quilos de explosivos para implodir o silo e o prédio central. Para que tudo dê certo, haverá o tombamento das paredes laterais enquanto o prédio é implodido para baixo. Ao todo, a implosão deve durar menos de 10 segundos.
Todo o processo de perfuração deve ser concluído até sexta-feira (26). Depois, começa a instalação dos explosivos nas paredes. A partir dessa etapa e de resolvida a burocracia com a Defesa Civil, a empresa agendará uma data para a implosão — provavelmente um fim de semana, por serem dias com menos movimento nos arredores.
Após a implosão, maquinários farão a limpeza do local e carregarão os entulhos.
Responsável pela implosão do Carandiru comanda a operação
Considerado a maior referência em implosões no Brasil, Manoel Jorge Diniz Dias, conhecido como “Manezinho da Implosão”, é o responsável técnico da implosão da Cesa de Passo Fundo.
Dias está na profissão há mais de 40 anos, sendo que nas últimas quatro décadas participou de 90% das implosões realizadas no país. Dentre as mais de 200 demolições feitas, destacam-se a do edifício residencial Palace II, em 1998, no Rio de Janeiro, e o complexo penitenciário do Carandiru, em 2002, em São Paulo.
Em conversa com GZH Passo Fundo, Manezinho explicou parte do processo de implosão de um local difícil, como um silo.
De acordo com ele, o primeiro procedimento para uma implosão é o pedido de apoio junto à Defesa Civil do município. A entidade participa da coordenação e do planejamento da operação, para, de tal forma, garantir que a ação seja bem-sucedida. Após isso, começa o trabalho da equipe.
— Nesse momento nós estamos, além de outras intervenções parciais e preliminares, executando a perfuração dos pilares principais da torre, da estrutura principal e do andar térreo da estrutura dos silos. Essa etapa a gente acredita que vai terminar nesta semana, ao mesmo tempo em que estamos tendo outras intervenções em algumas estruturas bastante específicas dentro do planejamento que contempla o plano de fogo. Para realizar esse trabalho, também precisamos de autorização perante prefeitura e Exército — explicou.
Entre os protocolos, está a medida cautelar junto à vizinhança, onde as casas passam por uma avaliação e é emitido um laudo para caracterizar a condição de cada imóvel antes da implosão. Caso ocorra algum dano pela implosão, a empresa pode ser responsabilizada.
Além disso, Manezinho revela que os níveis de vibração causados pela explosão também são fiscalizados, com objetivo de manter-se abaixo dos limites determinados por normas brasileiras e internacionais.
Segundo ele, as equipes seguem a norma NBR-953, uma das mais conservadoras do mundo a favor da segurança dos imóveis vizinhos. Ela está norteando os trabalhos, ao mesmo tempo em que será contratado uma expressão especializada para fazer o monitoramento sismográfico da operação, com sismógrafos nos imóveis vizinhos nos quadrantes de 360 graus.
— Dentre as medidas principais em uma implosão, a primordial é a segurança. Por isso instalamos telas fachadeiras numa quantidade de cinco camadas, de tal forma que não haja lançamento de fragmentos além da área de operação do prédio, preservando a segurança de imóveis vizinhos e pessoas — destacou.
Conforme o engenheiro de minas, são vários protocolos que contemplam a atividade de implosão, passando principalmente por prefeitura e exército, que é a entidade soberana que autoriza o uso de explosivos em áreas urbanas. Segundo Manezinho, isso já está sendo providenciado em paralelo, ao mesmo tempo em que a autorização para a demolição já havia sido obtida por parte dos proprietários do terreno.
Já os contatos da equipe que trabalha na implosão junto a Defesa Civil municipal devem acontecer ainda nesta semana, onde será feita uma reunião de planejamento contemplando todos os procedimentos da implosão.
— A Defesa Civil tem a vocação para atender essas demandas que estão diretamente ligadas à segurança de pessoas e patrimônio. Após resolver esses pormenores, a implosão será realizada — finalizou Manezinho.
Questionado, o coordenador de Defesa Civil de Passo Fundo, Fernando Carlos Bicca, disse que o evento de implosão ainda está sendo planejado:
— A ação é complexa, por isso ainda teremos reuniões nesta semana que definirão muito do que será feito envolvendo a implosão do silo da Cesa.