Feriado nacional desde 2002, o Dia do Trabalhador valoriza o ofício de todas as profissões e relembra a história daqueles que lutaram por melhores condições no passado. De lá para cá, tanto o sistema quanto a força de trabalho sofreram mudanças: hoje, as empresas empregam diferentes gerações e já enfrentam lacunas devido à falta de funcionários.
Este cenário afeta todos os níveis de atividade econômica, mas principalmente o setor de serviços. Em Passo Fundo, no norte gaúcho, a área foi a que mais sofreu oscilações neste ano, com 2,1 mil contratações, e 1,4 mil desligamentos. Enquanto isso, o grupo etário que mais trocou de emprego foi o dos jovens de 18 a 24 anos, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Os dados têm uma explicação lógica para a economista e pesquisadora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Cleide Moretto. Segundo ela, o comportamento dos jovens é motivado pela mudança, sem buscar estabilidade nas vagas ou construção de um plano de carreira:
— A geração Z, dos nascidos entre 1997 e 2010, quer qualidade de vida, flexibilidade e igualdade de oportunidades. E eles acham que nas empresas não encontram isso. Muitos não querem nenhum tipo de comando, mas a liberdade de fazer o que querem, como empreendedores, influencers e youtubers. Eles não buscam o processo de aprendizagem, o estudo ou a preparação.
Para driblar essa instabilidade, as empresas têm oferecido vagas de jovem-aprendiz e para jovens sem qualquer experiência no primeiro emprego. Lá na frente, o objetivo é capacitar e contratar o funcionário após a maioridade. Outra alternativa tem sido contratar pessoas mais velhas — que se mostram mais estáveis no mercado.
Estratégias buscam atrair os mais jovens
Sem perspectiva de passar longos períodos na mesma empresa, a maioria dos jovens parece buscar as oportunidades como caminho para o primeiro salário. Empresas com espaço para discussão e que se permitem receber as perspectivas daqueles que entram agora no mercado de trabalho tendem a ter preferência nas escolhas da nova geração de trabalhadores, disse a especialista.
— É possível unir a bagagem cultural sobre aspectos de cidadania, que a geração mais antiga tem, com as habilidades tecnológicas e novos pensamentos dos jovens. Quem conseguir consigo unir os dois terá um clima de trabalho perfeito — comenta Moretto.
Em Passo Fundo, uma rede de mercados organiza feirões de emprego com vagas específicas para as duas idades através dos programas “Maturidade Ativa” e “Primeiro Emprego”. A ideia, conforme o diretor de Recursos Humanos (RH), Wladmir Vieira, surgiu da dificuldade de encontrar interessados para assumir vagas da área:
— A geração antiga tem um comprometimento acima da média do nosso público ativo. Eles vêm de um mercado diferente, aceitam e entendem melhor a cultura das empresas. E com a geração nova entrando no mercado conosco, conseguimos formá-los melhor e colocá-los na nossa rotina, dando oportunidade deles crescerem.
Ainda conforme Vieira, a rede oferece um plano de carreira para quem deseja seguir e crescer profissionalmente, mas são poucos os que de fato desejam isto:
— O maior problema do mercado atual é que os jovens não têm apego. Se não se adaptam rápido, eles saem. Mesmo tentando trabalhar muito forte este crescimento interno, não é o que “brilha os olhos” deles — relata o gestor de RH.
Conciliando gerações
Aos 64 anos, Celso Luis Araújo Souza é um exemplo de quem se mantém ativo e procura estabilidade no mercado. Há cinco anos, ele integra a equipe de prevenção de riscos da rede de mercados e passou a ocupar a liderança da equipe recentemente. Mesmo com a proximidade da aposentadoria, adianta que deseja seguir ativo:
— Enquanto a empresa me quiser, eu vou ficar. Faltam 11 meses para me aposentar, mas eu ainda me sinto bem, ativo para trabalhar. Eu gosto do que faço, sinto orgulho de fazer parte, e minha rotina é tranquila, então pretendo seguir.
Na mesma companhia, o jovem aprendiz Victor Antonio Schmohr dos Santos, 18, vive a oportunidade de seu primeiro emprego. Estudante de Ciências da Computação, trabalha há um ano como auxiliar administrativo e, ao contrário das estatísticas de sua geração, pretende seguir na empresa e crescer para sua área de interesse, no setor de tecnologia de informação (TI).
— Busquei o emprego como uma experiência, para adquirir mais conhecimento do mercado de trabalho e no futuro estar em outro cargo. Eu vejo um futuro aqui, trabalhando na parte de TI, mas é um sonho de quem está começando a trabalhar.