Mesmo sendo o único grupo etário com maior número de demissões em relação a admissões no mercado de trabalho de Passo Fundo em 2023, trabalhadores com mais de 50 anos atraem a atenção de contrantes na cidade. Essa faixa etária é a que permanece por mais tempo nas vagas para a qual é contratada.
Essa característica é analisada pela Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS/Sine) da cidade, que observa rotatividade menor desses funcionários no mercado. A justificativa para isso pode estar na média salarial.
Conforme o último anuário estatístico solicitado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no ano de 2021, os jovens até 29 anos tinham média salarial de R$ 2,2 mil, enquanto as pessoas a partir de 60 anos recebiam R$ 4,6 mil em Passo Fundo.
— Com base nos dados, é possível concluirmos que a remuneração mais alta recebida pelas pessoas com mais de 50 anos torna atrativo para se manterem no emprego, enquanto a mais baixa recebida pelos jovens os leva a aceitar outras propostas ou mesmo atuar como conta própria, abrindo seu próprio negócio — analisa o coordenador da FGTAS/Sine Cassiano Paim Bandeira.
O cenário de Passo Fundo reflete o que acontece na dinâmica de trabalho internacional e nacional, estudadas pelo Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (UPF). Conforme análise da economista e docente do programa Cleide Moretto, existem dois perfis que continuam no mercado:
— Pessoas que ganham acima de 15 ou 20 salários mínimos não deixam de trabalhar pois não se imaginam saindo e perdendo o que ganhariam em idade ativa, então eles continuam nos vínculos. Já aqueles que ganham até um salário mínimo saem do mercado, e podem esbarrar em empregos informais.
Quanto à decisão no momento de contratação, a economista também aponta que contratantes tendem a escolher pessoas mais velhas em razão de resiliência, atendimento quais qualificado com o público e fidelidade com a empresa.
— Ao mesmo tempo que eles podem ser mais inflexíveis e ter resistência em adaptação com as tecnologias, as empresas sentem esse hiato muito grande de fidelidade com a empresa. Normalmente, observamos que os desligamentos só acontecem quando partem da empresa — diz Cleide.
Cenário atual
Ainda conforme os dados, em 2021 eram 2,7 mil pessoas a partir de 60 anos empregadas em Passo Fundo. Eles estavam distribuídos principalmente no setor de serviços (1.528), seguido de indústria (503) e comércio (469).
Neste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), os grupos a partir de 50 são os únicos com saldo negativo entre admissões (1.670) e demissões (1.739), com perda de 69 vagas.
No mercado mesmo após a aposentadoria
Apesar da dificuldade em conseguir uma nova oportunidade, e com as estatísticas não estando a favor deles, muitos dos maiores de 50 anos se mantêm ativos no mercado mesmo após a aposentadoria.
O pós-graduado em gestão pública Fernando Müller Pires iniciou a carreira aos 17 anos e se aposentou com 37 de contribuição, mas segue ativo em Passo Fundo. Aos 60 anos, ele retomou a formação em Direito, que havia desistido no passado, e prevê que continuará trabalhando pelos próximos cinco ou 10 anos.
— Me sinto bem e ativo para o mercado, eu até ficaria mal em largar tudo e passar meus dias parado. Enquanto tiver saúde, e o mercado suportar, continuarei trabalhando — diz.
No ramo de utilidades, a vendedora Marlenice Aparecida Tosatti, 55 anos, segue trabalhando por questões econômicas. A renda atual complementa a aposentadoria, que sustenta ela e a sobrinha de 27 anos.
— Continuo porque a minha aposentadoria não dá conta. E eu me sinto nova para estar parada, como sempre trabalhei no comércio, tenho experiência e me sinto bem aqui — descreve.
O conhecimento adquirido nos anos de atuação é um dos diferenciais buscados pelo gerente da unidade, Evandro Farias. Ele afirma que no ramo de bazar e utilidades se busca funcionários mais velhos justamente por entenderem melhor dos produtos.
— Atendemos pessoas mais velhas e vendemos produtos que, às vezes, os jovens podem não saber do que se trata. Temos a segurança de que pessoas mais experientes saberão como atender nossos clientes e ter o domínio do assunto — afirma.