Ao menos 35,4% da população economicamente ativa de Passo Fundo, no norte do RS, está endividada. Os dados foram atualizados na tarde desta terça-feira (9) pelo Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) e representam o não-pagamento de cobranças feitas na cidade.
A porcentagem de inadimplência em Passo Fundo é maior que a média do Estado, de 32,2%, e do país, que chega a 31,4%. A situação, porém, é um parâmetro constante em Passo Fundo por causa do perfil comercial e o fato da cidade ser polo de saúde e educação, setores que tendem a gerar dívidas.
— Passo Fundo é um polo de compras. Temos toda uma região que compra no comércio, o que acaba concentrando a compra e a inadimplência aqui. Além de termos dívidas também no setor de saúde e educação, que também somos referência — comenta o diretor do SCPC de Passo Fundo, Roberto Stivaleti.
A classe baixa, de pessoas que recebem entre R$ 1,4 mil e R$ 2 mil, é a que mais concentra dívidas (36,8% entre os inadimplentes). Entre homens e mulheres, o índice é equilibrado: 44,8% delas têm dívidas, então eles são 43%.
Além disso, os jovens adultos de 25 a 29 anos são a população que mais concentra dívidas (12,3%) entre os economicamente ativos. Os idosos acima de 60 anos ficam em último lugar, com 6,1%.
Falta educação financeira
A falta de educação financeira e a inflação são as principais causas para o alto percentual de inadimplência, aponta Stivaleti. No primeiro caso, a falta de organização financeira leva a novos endividamentos, mesmo para aqueles que renegociam suas dívidas:
— É muito comum que as pessoas que renegociam suas dívidas voltem a ter novos problemas. Porque como pagam ou renegociam, acham que podem gastar mais, e acabam nesse ciclo vicioso.
Quando ao endividamento, Stivaleti tem observado um novo perfil naqueles que deixam de pagar suas contas, mas sem se tornarem inadimplentes. A maioria das dívidas está associada ao uso do cartão de crédito, como forma de postergar as obrigações financeiras ou suprir a falta do dinheiro em conta, usando como complemento da renda.
— Usar o cartão como complemento é um problema porque os juros são altos. O mesmo acontece com contas de água, luz e internet, as pessoas estão deixando para pagar apenas quando correm risco de ter o serviço cortado, para postergar os gastos. E isso não aparecia nos nossos índices anteriores, temos observado desde dezembro — aponta Stivaleti.
Quem se enquadra neste público é a aposentada Jussara da Rosa, 66 anos. No caso dela, a dívida de um carro desestabilizou as economias da família, que agora busca se reestruturar novamente.
— O que acontece é que temos muita conta para pagar, o salário vai nessas obrigações, o que faz com que quando temos uma emergência, como no meu caso, acabamos despendendo muitos recursos, e leva mais tempo para a gente se organizar financeiramente de novo — resume Jussara.
Já quem aprendeu com as dívidas e agora tenta se organizar financeiramente é o aposentado Orides Tironi, 76 anos. Endividado no passado, ele organiza as contas para evitar pagar juros novamente:
— Os juros são caros demais. É claro que no passado, quando eu não tinha menos dinheiro e não sabia usar, acabei caindo nessa. Mas aprendi que sempre devemos deixar uma reservinha e se possível ter uma renda extra.
Como se organizar financeiramente
Manter uma organização financeira pode ser fácil se houver entendimento do quando se ganha e gasta, como explica o economista Julcemar Zilli. Ter a ideia inicial de como está o desempenho financeiro é o começo para a estabilidade financeira. Na sequência, o economista pontua as seguintes dicas:
- Evitar compras por impulso sem avaliar necessidade de ter tal produto ou serviço;
- Ao fazer uma compra, analisar se o pagamento à vista nao se torna mais interessante que o parcelado. Se pagar à vista, usar o poder de barganha;
- Ter atenção para o uso do cartão de credito: é preciso ter alto controle sobre os gastos, pois a taxa de juros ao não pagar a fatura completa pode passar de 100% ao ano;
- Ao receber um recurso adicional, como o 13º salário, buscar pagar as dívidas, começando principalmente pela que tem maior taxa de juros;
- Ao pagar as dívidas, procurar instituições e buscar fazer uma renegociação.