A taxa de inadimplência dos moradores de Passo Fundo atingiu 35,4% em janeiro, mais que a média registrada no RS, de 32,1%. Esse é o maior resultado do município desde o início do levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), em março de 2022.
Em Passo Fundo, cerca de 73 mil dos 206 mil habitantes têm alguma dívida, conforme os dados da CDL. No RS, são 2.756 milhões de pessoas negativadas, enquanto o Brasil tem 66,9 milhões.
Segundo o diretor de Serviço de Proteção ao Crédito (SCPC) da CDL Passo Fundo, Valter Ceolin, o motivo para a alta no número de inadimplentes inclui os gastos fixos do início de ano, como IPVA e IPTU, compras de material escolar para o início de ano letivo e alta no consumo do cartão de crédito.
Além disso, os recentes períodos de estiagem e excesso de chuva, principalmente com as quebras das safra de soja e trigo, impulsionam o cenário de índices altos de endividamento.
— Nos preocupa, pois dados mostram um cenário em que o nosso consumidor deixa de consumir uma vez que falta dinheiro e também crédito — afirmou.
Perfil do endividado de Passo Fundo
Em Passo Fundo, as dívidas são mais comuns entre as classes mais baixas. A maior parte das pessoas endividadas (34,6%) têm renda mensal de R$ 1.401 a R$ 2 mil. Em seguida está quem recebe de R$ 1 mil a R$ 1,4 mil (18,7%).
Na análise por gênero, a falta de pagamento é semelhante: 44,5% são mulheres e 42,9% são homens. O que chama a atenção, porém, é a faixa etária das pessoas com "nome sujo" na praça: não pagar contas é mais comum entre a população de 25 a 29 anos:
- 25 a 29 anos: 13,42% de endividados
- 30 a 34 anos: 12,86%
- 35 a 39 anos: 12,4%
- 40 a 44 anos: 11,64%
Segundo Ceolin, apesar das contas mais “salgadas” do início de ano, os dados revelam que o endividamento tem afetado principalmente jovens que estão começando a vida profissional e familiar. Por isso, o diretor reforça três dicas:
- Nunca empreste o nome para crédito
- Se possível, tenha uma reserva de emergência
- Renegocie a dívida com os credores
"Falta cultura de planejamento", diz economista
Economista da Universidade de Passo Fundo (UPF), Cleide Moretto explica que os altos índices revelam uma falta de “cultura de planejamento” tanto pessoal quanto familiar. Além disso, o apelo ao consumo que extrapola as despesas fixas do mês é cada vez mais alto — e também mais acessível.
— Hoje é muito mais fácil comprar. Existem mecanismos de compra, como o próprio cartão de crédito, que criam uma imagem de que é possível comprar, parcelar e postergar para depois "dar um jeito". Só que, em um determinado momento, as contas podem se acumular e dificultar cumprir com a obrigação — disse a professora.
É o caso do cartão de crédito do empresário Ronaldo Antônio da Silva, 57 anos. Ele conta que escolheu quais contas pagar neste início de ano: quitou a escola das filhas e impostos, como IPTU e IPVA. Já a fatura do cartão de crédito, que está vencida, vai ter que esperar alguns dias até ficar em dia.
— É comum no início de ano. Temos os gastos com as filhas estudando, manutenção do carro. Enfim, a gente se vira nos trinta, né? Até porque trabalho com produtos sazonais, então vamos pensando mês a mês — conta.
Por isso, a especialista reforça que a educação financeira não deve ser um ponto chave apenas para adultos, mas também ensinado para as crianças desde cedo.
— Os filhos precisam entender dos limites da renda, de que não é possível comprar tudo. Então uma boa dica é começar a colocar no papel gastos previsíveis como IPTU e IPVA. Você vê que esse é um período onde se faz um balanço e percebe que todos estão numa situação um pouco delicada, porque não conseguiram equacionar os gastos que tiveram.
Quem coloca tudo no papel é o fotógrafo Paulo Ricardo dos Santos, 40. Ele conta que em todas as contas na ponta da caneta e dificilmente deixa passar alguma conta.
— Nunca fiquei com o “nome na praça”. Procuro ver o que eu realmente vou gastar para não ter problema de fugir do meu orçamento e do que eu preciso realmente no mês. O mais difícil, sem dúvida, é o cartão de crédito. Porque se você parcela, vai deixando de pagar e aí a dívida só aumenta — pontuou.