Um café reforçado acompanhado de uma mesa farta de delícias gaúchas: assim são as manhãs que antecedem o dia 20 de setembro em Passo Fundo, no norte do Estado.
A tradição do Café de Chaleira é mantida pelos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e entidades tradicionalistas da cidade, que se organizam para receber o público diariamente.
As estrelas do cardápio são o feijão-mexido e o café, acompanhados de diferentes tipos de bolos, cucas, pão, cueca virada, geleias, salame, morcilha queijos e farofa.
Tudo é inspirado em comidas típicas do Estado, presentes na culinária desde os tropeiros até as atuais famílias gaúchas, como comenta o coordenador da 7ª Região Tradicionalista, Alessandro Gradaschi:
— Servimos a culinária gaúcha, fazendo o povo lembrar do bolo da vovó, do doce de família e provar o autêntico café de chaleira dos tropeiros. Sem esquecer do feijão-mexido, algo que muitos não comem na sua rotina normal. Faz tanto sucesso porque são alimentos simples, mas bem feitos e que remetem a nossa infância. Trazemos eles para a Semana Farroupilha e é apreciado pela comunidade, todo mundo gosta.
Mais de 130kg de feijão
Dia de Café de Chaleira é dia de festa: as entidades enfeitam a “casa” para receber as centenas de visitantes, numa programação que dura o dia inteiro, com café, almoço e janta.
Para garantir a comilança de qualidade, os voluntários e membros começam os trabalhos ao menos dois dias antes, com o tempero do feijão. No dia de ser anfitrião, a cozinha começa a ser movimentada desde às 2h da madrugada, quando são fritos os primeiros bolinhos.
Tudo é servido em duas partes: a primeira às 7h, exclusiva para os gaúchos que querem se alimentar antes de enfrentar um dia de trabalho, e a segunda às 8h30min, após o hasteamento das bandeiras e pronunciamento das autoridades.
GZH Passo Fundo visitou o CTG União Campeira, no bairro São Luiz Gonzaga, para entender os segredos por trás do preparo do café de chaleira. Por lá, a equipe é formada por 30 pessoas, entre membros da patronagem e familiares de participantes da invernada, que se dividem no preparo dos pratos.
De olho nas panelas de “revirado”, como chamam o feijão, estava Valdeni Rodrigues. O grupo de voluntários cozinhou cerca de 130kg de feijão. O diferencial, segundo ele, está no ponto do grão e do caldo:
— Não tem mistério, mas temos nosso jeito. Começamos a deixar o grão de molho há dois dias e depois temperamos. O nosso faz sucesso, o pessoal gosta do ponto dele, que solta da colher, mas é bom de comer. Aqui a gente tem capacidade para servir até 500 pessoas e nunca sobra nada no final — brinca Valdeni.
Público garante o sucesso do prato
Todos os dias, os cafés de chaleira lotam as entidades que sediam a festa. Entre o público estão moradores que desejam tomar café antes de trabalhar e aqueles que cultivam a tradição gaúcha.
No caso da professora Rafaela Vargas da Silva, o hábito de comparecer ao evento foi ressignificado ao longo da vida:
— Eu venho desde criança, era pequena e meus pais me traziam. Quando adolescente também participava, pois fazia parte de CTGs. E agora, adulta, eu trago meus alunos, para que também sigam essa tradição tão bonita.
O hábito também é presente na rotina da estudante Angelica Polo, que foi acompanhada de amigos e família garantir a refeição:
— Eu sempre gostei de comer um salgado pela manhã, então eu adoro essa ideia do café de chaleira. É muito gostoso. O revirado, em especial, eu adorei.
E apesar de ser um clássico, sempre tem quem experimenta pela primeira vez. Na última semana o venezuelano Juan Medina foi convencido pelos colegas de trabalho a provar o revirado, e aprovou:
— Achei diferente, do nosso jeito o café é algo de se comer mais “ligeiro”. Mas gostei desse jeito, é um prato para te dar força, eu curti.
Onde encontrar o Café de Chaleira
Todos os dias uma entidade tradicionalista recebe os festejos. Além do café, há atividades culturais, declamação, danças, almoço e jantar. Confira abaixo o itinerário das rondas gaúchas:
14/09 – Associação dos Trovadores Pedro Ribeiro da Luz
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (vaca atolada) – Valor: R$ 35
- 18h: arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99959-6083
14/09 – CTG Amigos da Tradição de Bela Vista
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (ovelha assada, churrasco e acompanhamentos)
- 18h: arriamento das bandeiras
- 20h30min: jantar (churrasco) e fandango com Grupo Gauderiaço – Valor: R$ 65
- Contato: (54) 99639-9569
15/09 – GCT Cavaleiros do Planalto Médio
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (ovelha assada e churrasco)
- 18h: arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99293-1661
16/09 – DT Clube Juvenil
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 18h: arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99110-4040
17/09 – Departamento Tradicionalista Simpasso
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (costela de gado com mandioca) – Valor: R$ 50
- 18h: arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99219-0864
18/09 – CTG Lalau Miranda
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (costelão) – Valor: R$ 70
- 18h: arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99977-4702
19/09 – CTG Tropel de Caudilhos
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (churrasco)
- 14h: encerramento da Semana Farroupilha e arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99131-7357
20/09 — CTG Eduardo Müller
- 7h: mateada
- 8h: hasteamento das bandeiras
- 8h30min: café de chaleira – Valor: R$ 20
- 12h: almoço (churrasco) — Valor: R$ 60
- A Tarde: bailanta com Grupo Gaitaço
- 18h: encerramento da Semana Farroupilha e arriamento das bandeiras
- Contato: (54) 99166-3515