Os gritos de crianças e o corpo verde humanoide que cruza a tela em Sinais, de M. Night Shyamalan, colocaram Passo Fundo, no norte gaúcho, em evidência global desde 2 de agosto de 2002, quando o longa foi lançado nos EUA.
Apesar da cena não ter sido gravada na cidade, 22 anos depois Passo Fundo segue no núcleo de acontecimentos que chamam a atenção de ufólogos ao redor do mundo, como explica o historiador e diretor do Museu de Ufologia, História e Ciência de Itaara, Hernán Mostajo.
Segundo ele, o fato retratado no filme não passa de ficção: nenhum extraterrestre jamais foi filmado em Passo Fundo. Mas o entorno da cidade, por outro lado, traz registros incomuns àqueles que estão atentos à vida fora da Terra.
— Os motivos para o cineasta ter colocado a cidade no filme é porque não é de hoje que essa região está na rota dos fenômenos aéreos não-identificados — disse Mostajo.
Desde a década de 1950 há registros de avistamentos de esferas luminosas, objetos discoidais e até de formas cilíndricas na região. Em Passo Fundo, pessoas disseram ter visto criaturas com características humanoides semelhantes a do filme Sinais na Vila Annes durante a década de 1970.
— Talvez daí tenha saído a inspiração de M. Night Shyamalan — afirmou o pesquisador.
Apesar de apenas Passo Fundo ter sido citada no filme, outras cidades da Região Norte já tiveram acontecimentos relacionados com a ufologia, como Tapejara, Coxilha, Getúlio Vargas, Carazinho, Não-Me-Toque e Victor Graeff.
Porém o principal acontecimento ufológico registrado na região aconteceu no município de Sarandi, de 22,8 mil habitantes, na década de 1950.
A história de Artur Berlet
De todas as histórias sobre extraterrestres em Passo Fundo e região a que mais chama a atenção aconteceu em Sarandi no ano de 1958. Em 14 de maio, o então tratorista da prefeitura Artur Berlet desapareceu e voltou para casa 11 dias depois dizendo ter sido abduzido.
O relato de Berlet está em um livro de 422 páginas escrito à lápis dias depois de seu retorno. Na narrativa, o homem conta que a abdução aconteceu enquanto ele voltava para casa, por volta das 19h, após trabalhar como fotógrafo em um casamento na localidade de Encruzilhada Natalino, no interior do município.
Berlet escreveu que andava na estrada de terra quando viu uma luminosidade muito intensa a cerca de 200 metros. Foi então que ele pulou uma cerca e viu dois pratos sobrepostos, até que um facho de luz foi direcionado aos seus olhos.
Depois disso, ele diz que só recobrou a consciência quando já estava no planeta Acart, onde permaneceu por vários dias até voltar à Terra.
No livro, Artur relata detalhes sobre a civilização "acartiana" e sua posição extremamente pacífica, onde as armas eram somente defensivas pois eles já não entravam mais em conflitos ou guerras. O livro foi doado ao Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência pela família de Berlet em 2001.
— Fizemos o resgate histórico e científico da literatura dele e contratamos profissionais da ciência para a interpretação daqueles manuscritos. Falamos com um físico, um psicólogo e um psiquiatra, e eles constataram de forma unânime que Artur Berlet tinha realmente vivenciado algo inusitado. De fato era uma viagem a outro planeta? Não sabemos. Contato com extraterrestres? Não sabemos. Mas tudo fica muito bem caracterizado nas linhas escritas por Berlet — afirma Mostajo.
Previu o futuro?
No conteúdo das páginas, Berlet relatou uma sequência de tecnologias que a humanidade desconhecia à época. Em 1958, antes mesmo do homem ir à Lua, ele relatou que o planeta Acart funcionava com energia solar, detalhando as placas solares, e usava "tonéis voadores" como meio de transporte.
— Outra coisa muito interessante na narrativa dele é a questão de que o planeta usava "água reciclada". Eles tinham muito cuidado com seu meio ambiente porque, num passado não tão distante, sofreram muito com questões relacionadas à escassez planetária — disse Mostajo.
Em outro trecho, Berlet disse que a população dos alienígenas que o abduziram usavam a Lua como estação intermediária 11 anos antes do homem pisar no principal satélite da Terra.
E qual o motivo de estarem na Terra? Segundo o fotógrafo, os acartianos realizavam pesquisas nas plantações de cereais pois enfrentavam problemas na suficiência alimentar.
— Diante disso, fica outro ponto de interrogação: como é que um tratorista e fotógrafo do interior do Rio Grande do Sul conseguiu narrar com tantos detalhes todas essas coisas? Isso é magnífico e ao mesmo tempo chama muita atenção — disse Mostajo.
Em 1968, a narrativa de Artur Berlet virou um livro patrocinado pelo Dr. Walter Biller, famoso ufólogo alemão que morava no Rio de Janeiro. O título: Os Discos Voadores — da utopia à realidade: narrativa de uma real viagem a outro planeta. Foi lançado pela primeira vez pela editora A Região em 1967.
Entre louco e visionário
Não demorou para que a história de Berlet se espalhasse e começasse a dividir opiniões. Com tantos detalhes curiosos e misteriosos, os adjetivos ficavam entre "louco" e "visionário" — mas nunca passavam despercebidos.
Alison Berlet, 34, neto de Artur, é quem mantém a história viva. Em entrevista a GZH Passo Fundo, ele conta que ouviu o relato pela primeira vez ainda criança, aos cinco anos. Segundo ele, os detalhes do manuscrito são o que tornam a abdução crível.
— São detalhes que quem leu o livro dele entende o quão profundo e verdadeiro pode ser esse relato — disse.
Berlet morreu em 1994, após enfrentar um câncer. E, mesmo convivendo pouco tempo com seu avô, Alison afirma que seu objetivo é seguir contando aquela que é considerada a principal história ufológica do norte gaúcho:
— Em vida, meu avô simplesmente contava sua história, ele não tentava convencer ninguém de que era real. Esse é o sentimento que tento seguir. Sempre vai ter gente que não vai acreditar e está tudo bem, tem gente que acredita e tem gente que não. Mas seguirei no meu papel de manter vivo o seu relato incrível. Essa é a minha missão como neto.
No meio ufólogo, Mostajo diz que já conheceu diversas narrativas sobre extraterrestres e teve a oportunidade de conversar com personalidades internacionais que também afirmam terem sido abduzidas, mas nenhuma tem a qualidade, os detalhes, discernimento e clareza científica como o relato de Artur Berlet.
— Hoje o legado dele está no Museu Internacional de Ufologia junto com a sua polêmica e famosa máquina fotográfica, que ele não pode usar naquele planeta por não ser permitido. Quem sabe, Artur Berlet fez uma viagem que toda a humanidade gostaria de fazer — terminou.