Por Franciane Bayer, deputada federal (Republicanos)
O uso indiscriminado de aparelhos de telefone celular em sala de aula parece um problema recente, mas já é um problema mais velho do que muitas das crianças por ele vitimadas. Recentemente, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que traz novas diretrizes sobre o uso de celulares nas salas de aula de instituições de ensino básico e superior. É o PL 104 de 2015 — ou seja, a questão preocupa há pelo menos uma década.
A grande diferença entre a redação original e o PL que ora avança está na abrangência das proibições. Dez anos atrás, pretendia-se vedar todo e qualquer uso de eletrônicos em sala de aula. Já o atual projeto aceita exceções, voltadas especialmente para questões de acessibilidade e para o uso pedagógico, de acordo com os fins do sistema educacional. Contudo, mantém uma ampla proibição na educação básica (infantil, fundamental e média).
Estudos da OCDE, do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e outros apontam que o uso excessivo de telas pode causar danos psicológicos e cognitivos em crianças e adolescentes
Os fundamentos que sustentam esta limitação são robustos. Estudos da OCDE, do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e outros apontam que o uso excessivo de telas pode causar danos psicológicos e cognitivos em crianças e adolescentes. Queda no bem-estar psicológico, maior distração, dificuldades de socialização, menor capacidade de conclusão de tarefas e desempenho acadêmico inferior ao de quem não usa eletrônicos são apenas algumas das conclusões desses levantamentos.
Todavia, o que temos percebido é que essas comprovações científicas nem seriam necessárias para que pais e mães aprovassem em quase uníssono o PL 104/2015. O que começou como uma brincadeira, como uma distração inofensiva, é hoje uma ameaça à concentração, ao aprendizado e, portanto, ao futuro de milhões de crianças e adolescentes. Quem educa — em casa e em sala de aula — sabe que a imposição de limites é algo indispensável. É, na verdade, uma das mais difíceis mas também das mais importantes demonstrações de amor.