Por Mauricio Chehin, especialista em reprodução assistida e diretor de Oncofertilidade do Grupo Huntington
A cada ano mais jovens são diagnosticados com algum tipo de câncer — entre 1999 e 2019, o salto foi de quase 80% na incidência em pessoas com menos de 50 anos. Este cenário levanta questões cruciais sobre o impacto do tratamento oncológico, especialmente para mulheres em idade fértil que desejam engravidar (ou têm dúvidas), pois o tratamento do câncer pode impactar a fertilidade — metade das pacientes entre 30 e 35 anos ficam inférteis.
A quimioterapia e a radioterapia são abordagens mais agressivas que visam a destruição das células cancerosas, para impedir que elas se multipliquem. O problema é que elas não são capazes de distinguir as células saudáveis do organismo — como óvulos e folículos ovarianos — e acabam por danificá-las, podendo gerar efeitos colaterais irreversíveis, como a infertilidade.
A técnica é realizada antes do tratamento do câncer, visando conservar a fertilidade de pacientes em idade fértil e possibilitar uma futura concepção
Diante dessa possibilidade, é essencial ter uma comunicação clara e tranquila com a paciente sobre procedimentos para preservação da fertilidade, ou oncopreservação. A técnica é realizada antes do tratamento do câncer, visando conservar a fertilidade de pacientes em idade fértil e possibilitar uma futura concepção. Ela é feita por meio de congelamento de óvulos; tecido ovariano; do sêmen, nos homens; ou embriões fecundados.
O congelamento de óvulos, método mais comum, mantém a viabilidade dos gametas (e as chances de uma gestação bem-sucedida) como na época em que foram coletados. O procedimento leva menos de duas semanas para ser realizado, entre a estimulação ovariana por meio de medicamentos e a coleta de óvulos, e pode ser feito logo após o descobrimento do câncer, porque adiar o tratamento por este breve período não compromete os resultados da terapia e o procedimento não apresenta riscos à paciente.
O medo após o diagnóstico costuma ser inevitável. Apresentar todas as possibilidades aos pacientes de forma clara e objetiva é papel obrigatório da equipe médica, auxilia na promoção de qualidade de vida e coloca os pacientes mais próximos de realizarem seus sonhos.