A retração de apenas 0,3% do PIB gaúcho no segundo trimestre, na comparação com os três meses iniciais do ano, sem dúvida foi uma grata surpresa. Em relação a igual período de 2023, mostram os números divulgados nesta semana pelo Departamento de Economia do Estado (DEE), foi observado um crescimento de 4,6%. Os dados indicam que os piores temores, após a destruição da enchente de maio, não se confirmaram.
O desempenho acima do esperado no indicador que mede a soma de bens e serviços produzidos não significa que a economia do Estado passou quase incólume pela tragédia climática. Pelo contrário. Os danos foram extensos e de um custo de dezenas de bilhões de reais. O PIB seria muito mais robusto sem a cheia. Os efeitos dos alagamentos de maio seguirão sendo sentidos ao longo do tempo. Permanece vital manter os esforços pela reconstrução e continuar a cobrar a efetivação de cada medida de apoio anunciada para cidadãos e empresas.
O desempenho acima do esperado não significa que a economia do RS passou quase incólume pela tragédia climática
É preciso registrar que o resultado do segundo trimestre foi influenciado pelo campo, usualmente responsável por grandes oscilações no PIB do Rio Grande do Sul. A safra de soja, com o auge da colheita em abril, foi satisfatória, após quebra da produção no ano passado pela estiagem. A agropecuária cresceu 5,3% ante o primeiro trimestre e 34,5% sobre o período de abril a junho de 2023. A indústria, por outro lado, recuou 2,4% na comparação com o intervalo de janeiro a março deste ano, enquanto os serviços ficaram estáveis, com uma variação de 0,1%.
Convém lembrar que, ainda durante o segundo trimestre, os auxílios aos atingidos e a antecipação de programas de transferência de renda ajudaram a impulsionar o consumo. Ademais, o empenho para dar início à reconstrução também moveu a economia. Perdas materiais, como estradas e pontes destruídas, máquinas estragadas, residências arrasadas e mobiliário arruinado, porém, não entram no cálculo. Mas se constituem em um enorme prejuízo, arcado pelo poder público, empresas e cidadãos. É ainda possível que a injeção adiantada de recursos de programas sociais se reflita em consumo menor no futuro.
São ponderações necessárias para dissipar qualquer interpretação apressada de que a enchente não foi um duro golpe na economia gaúcha e nas finanças pessoais dos diretamente afetados. Ainda na semana passada, foi divulgado um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimando que os prejuízos no Rio Grande do Sul chegaram a R$ 87 bilhões. Apenas como comparação ilustrativa, o PIB gaúcho no ano passado, conforme o DEE, vinculado à Secretaria de Planejamento do Estado, somou R$ 640,3 bilhões.
Inobstante deva existir dose de parcimônia na avaliação da economia do Estado no segundo trimestre e seja preciso lembrar que a recuperação será longa, impõe-se reiterar que vários indicadores demonstram o reaquecimento da atividade no Rio Grande do Sul. Dados do mercado de trabalho, da arrecadação de impostos, da produção industrial, do turismo e do agronegócio, entre outros segmentos, emitem esses sinais. Ainda assim, milhares de cidadãos e empresas seguem à espera das promessas de amparo para se reerguerem e não podem ser deixados para trás.