Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o seu terceiro mandato como presidente brasileiro com a pretensão de se firmar como uma liderança global nos temas da proteção do meio ambiente, da transição energética e do combate às mudanças climáticas. As queimadas que nas últimas semanas avançaram por várias regiões brasileiras e cobriram o céu do país de fumaça, sem uma resposta à altura do governo federal, mostraram que, a despeito do discurso correto nas linhas gerais, ainda é significativa a distância entre o que é pregado publicamente no Palácio do Planalto e ações efetivas.
Pouco adiantarão palavras na ONU se desastres tantas vezes alertados seguirem surpreendendo a quem caberiam as medidas
É possível que, com a imagem tisnada pelos incêndios, Lula tenha preferido ser comedido ao abordar o assunto em seu pronunciamento na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ontem, em Nova York. Esperava-se que fosse a temática dominante de sua fala, mas, frustrando as expectativas, ocupou apenas cerca de um quarto de seu discurso, dividindo espaço com conflitos armados, democracia e reformas no sistema de representação da ONU.
O presidente brasileiro pode ter acertado no tom ao admitir que o Brasil ainda precisa apresentar melhores resultados na proteção ao ambiente e ressaltar que o seu governo não terceiriza responsabilidades. É positivo, também, ter reafirmado a meta – de difícil cumprimento – de zerar o desmatamento até 2030. Da mesma forma, é acertado reiterar a cobrança para países ricos ajudarem as nações mais pobres na preservação de biomas. Mas pouco adiantarão as belas palavras se, no país que tem de administrar, desastres tantas vezes alertados seguirem surpreendendo a quem caberiam as medidas preventivas.
A enchente com força destruidora inédita no Rio Grande do Sul e a seca histórica que assola em especial o Norte e o Centro-Oeste são os avisos definitivos de que os extremos do clima não podem ser mais negligenciados. Faltam ao Brasil preparação, planejamento e orçamento para enfrentar eventos do gênero, o que inclui uma articulação adequada com os Estados para uma resposta planificada e conjunta. O episódio recente das queimadas foi ilustrativo em relação à inércia, quebrada apenas por uma determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino.
É verdade que o governo conseguiu diminuir o ritmo de desmatamento na Amazônia. Mas, no Cerrado, onde estão as nascentes de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, a devastação da vegetação original segue aumentando. Ademais, a seca inclemente faz com que, no bioma amazônico, mesmo a floresta em pé acabe sucumbindo aos incêndios.
A proteção da Amazônia é de interesse global, mas é especialmente vital ao Brasil. A floresta sadia produz o regime de chuvas que torna a agricultura brasileira imbatível em termos de produtividade. Precipitações produzidas no extremo norte do país também chegam ao Rio Grande do Sul por meio dos chamados rios voadores. O sistema energético brasileiro, com a maior parte da matriz vinculada a usinas hidrelétricas, também depende da estabilidade climática. A inação põe em risco a própria economia brasileira.