O Rio Grande do Sul vive nas últimas semanas um surto de chacinas desencadeado por disputas entre traficantes de drogas. Os casos foram registrados em Porto Alegre, Alvorada, Rolante, Santa Rosa e Arroio dos Ratos. Há ainda outros casos de assassinatos, ao que parece, envolvendo acertos de contas entre criminosos ligados ao comércio de entorpecentes. As forças policiais do Estado devem à sociedade gaúcha uma pronta e contundente reação para conter a onda de barbárie.
É intrigante que um significativo número de chacinas tenha ocorrido em um intervalo de tempo pequeno, de apenas um mês
Não deve ser tolerada a mínima possibilidade de voltar a ocorrer algo que sequer lembre o cenário de meados da década passada, em especial entre 2014 e 2017, quando a violência desmedida entre grupos rivais levou a números recordes de homicídios no Rio Grande do Sul. O secretário estadual de Segurança Pública do Estado, Sandro Caron, prometeu ontem uma “resposta forte” à guerra entre traficantes. Algumas prisões já foram feitas e efetivos da Polícia Civil e da Brigada Militar foram deslocados para os locais onde ocorreram as chacinas, uma providência necessária para apurar o que ocorreu e evitar a escalada da brutalidade.
As informações oficiais, por enquanto, indicam que os cinco casos não teriam relação entre si. Ou seja, não seriam resultado de um conflito mais abrangente deflagrado entre as principais facções que controlam o tráfico de drogas no Estado e se ramificam para outros crimes. Seriam o resultado de rixas entre quadrilhas locais. Ainda assim, é intrigante que um significativo número de chacinas tenha ocorrido em um intervalo de tempo pequeno, de apenas um mês. Não é algo normal. Ainda seria necessário, portanto, compreender melhor as motivações por trás dos assassinatos para se descartar uma disputa maior por poder ou territórios no mundo do crime. Deve-se confiar que as investigações trarão esclarecimentos mais detalhados.
O Estado vem de uma diminuição consistente nos números da criminalidade, bem ilustrado pelas estatísticas de assassinatos. Em 2017, no auge da violência, foram 2.990 pessoas vitimadas por homicídios no Rio Grande do Sul. Veio em seguida uma sequência de anos com redução constante nas estatísticas, fruto de um planejamento bem executado, que incluiu priorização dos municípios mais problemáticos, investimento em inteligência, integração entre Polícia Civil e Brigada Militar e transferência de líderes para presídios federais em outros Estados. Em 2023, foram 1.661 vítimas. Ainda distante de patamares civilizados, mas uma queda considerável de 45% no período. Em 2024, até agosto, assassinatos continuavam em tendência de queda no Rio Grande do Sul.
A nova irrupção da violência volta a demonstrar a importância de um combate firme e sem tréguas ao tráfico de drogas e às facções. Policiamento ostensivo, inteligência para se antecipar aos movimentos dos criminosos e asfixia financeira dos grupos e seus líderes, com sequestros de bens e valores, se somam nesta batalha contínua para fazer das cidades gaúchas lugares mais seguros. Aguarda-se que todos esses casos recentes sejam solucionados, os responsáveis sejam punidos, as chacinas cessem e, com o cerco ainda mais apertado contra os grupos delinquentes, o Estado prossiga na trajetória de diminuição dos números de homicídios e outros delitos.