A ameaça palpável de confronto generalizado no Oriente Médio exige esforços diplomáticos redobrados e colaboração das vozes moderadas com ascendência sobre os lados envolvidos para se evitar uma escalada ainda maior do conflito que, no limite, inclui até o risco de participação de potências bélicas de fora da região. A despeito dos fracassos até agora nas tentativas de mediação, é dever da comunidade internacional perseverar na busca por um acordo temporário que estanque a violência, garanta a libertação dos reféns israelenses em poder do grupo terrorista Hamas e seja a semente de um avanço mais amplo de negociações para estabelecer a paz duradoura.
É dever perseverar na busca por um acordo que estanque a violência, garanta a libertação dos reféns israelenses e seja a semente da paz duradoura
Neste momento, como desdobramento da resposta ao atentado do Hamas em 7 de outubro do ano passado, Israel desloca suas forças para o norte, na fronteira com o Líbano, onde fustiga o Hezbollah com bombardeios e operações especiais, como as explosões em pagers e walkie-talkies da milícia paramilitar xiita baseada no território vizinho. O Hezbollah, por seu turno, recrudesce o ataque com foguetes a Israel. A situação, no entanto, pode se agravar bastante caso Israel leve adiante a possibilidade de invadir o Líbano por terra.
A tensão histórica entre Israel e Hezbollah se acentuou desde a ação terrorista do Hamas, há quase um ano, que resultou em 1,2 mil mortos e 250 sequestrados. Além da invasão à Faixa de Gaza, ao sul, para anular o grupo islâmico e tentar libertar reféns, já se cogitava a hipótese de uma outra frente de batalha, ao norte, diante da possibilidade de a investida do Hamas integrar uma estratégia mais ampla para ameaçar Israel de forma existencial, com uma ofensiva também do Hezbollah.
O contexto explosivo inclui o fato de existir uma aliança entre grupos extremistas armados como o Hamas, o Hezbollah e os Houtis, sediados no Iêmen, unidos pelo antissemitismo e pelo princípio de negar a existência do Estado de Israel. Por trás dos três manobra o Irã, cujo regime fundamentalista dos aiatolás tem o suporte de potências como Rússia e China, adversários geopolíticos dos Estados Unidos, aliados de Israel. Desse cenário complexo eivado de rivalidades, em que se mesclam religião, intolerâncias ancestrais, política e interesses econômicos, deriva o risco de um conflito que possa ser considerado até uma terceira guerra mundial.
Não é uma ameaça desprezível. Requer, portanto, empenho máximo e responsabilidade das lideranças internacionais em um momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU), cada vez mais enfraquecida como fórum global, mostra-se incapaz de uma mediação com consequências. Não é uma tarefa banal, em meio a um conflito no Oriente Médio que, de um lado, tem grupos terroristas que negam o direito de existência dos judeus e de Israel e, de outro, um governo de Benjamin Netanyahu pressionado por não ter evitado o atentado de 7 de outubro e acusado por familiares de reféns de não priorizar a volta para casa dos sequestrados, mas alimentar a guerra em nome de sua própria sobrevivência política. É nos momentos de ápice da apreensão, como o atual, mas que ainda reservam tempo para agir, que as vozes da razão e da temperança precisam se erguer e ser ouvidas.